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(Palestra do Mês)

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Fotografia Astronómica (III)

Dependendo do telescópio e da película fotográfica utilizada é possível fotografar objectos celestes que não são nunca observados pelo olho humano. Neste caso torna-se necessário recorrer a tempos de exposição bastante longos (de poucos minutos a várias horas) se quisermos fotografar com sucesso certos objectos celestes de baixa luminosidade. Tempos de exposição tão elevados obrigam a que durante a pose se efectue uma guiagem precisa. Isto equivale a dizer que o telescópio a ser utilizado terá de se manter centrado numa moeda de 20 escudos (se por analogia a moeda for o objecto celeste a fotografar) que se encontre a 1 km de distância e que se movimente uniformemente com a velocidade de rotação da esfera celeste. Ter-se-á que recorrer ao auxílio de uma montagem equatorial para a realização de tal tipo de astrofotografias e será ainda necessário proceder a inúmeras correcções do movimento horário durante o tempo de exposição. Tais correcções terão de actuar nos dois eixos da montagem equatorial devido fundamentalmente a problemas mecânicos inerentes à própria montagem, ao sistema de guiagem e à refracção atmosférica.

As películas a utilizar terão necessariamente características distintas das usadas na fotografia da Lua e dos planetas. Poderemos utilizar películas de sensibilidade média e elevada tal como foi mencionado anteriormente no tocante à fotografia de constelações. No entanto a falha de reciprocidade é naturalmente muito acentuada quando se realizam exposições de vários dezenas de minutos e até de algumas horas. Um dos processos de obviar tal problema consiste na utilização de películas especialmente desenvolvidas para a fotografia astronómica (Kodak 103aE, 103aF e 103aO). Mais recentemente foram desenvolvidas certas técnicas que permitem reduzir ou mesmo anular a falha de reciprocidade de certas películas fotográficas. Tais técnicas consistem na hipersensibilização da emulsão através da inclusão desta numa atmosfera de hidrogénio e azoto (numa proporção de 1 para 9 respectivamente) durante algumas horas (ca. 10h) a uma temperatura relativamente elevada (ca. 60oC).

O filme Kodak Technical Pan 2415 (=Kodak SO-115) é particularmente adequado para a realização de astrofotografias de longa pose depois de hipersensibilizado. O mesmo é válido para alguns filmes coloridos embora os resultados não sejam tão satisfatórios. Pode-se ainda recorrer à utilização de certos filtros na realização deste tipo de fotografias. Apesar dos objectos a fotografar terem uma luminosidade muito baixa, a utilização de filtros permite seleccionar uma gama de comprimentos de onda e consequentemente eliminar a radiação luminosa "prejudicial". Tal é o caso dos "filtros para a diminuição da poluição luminosa" que eliminam a radiçãoemitida pelas luzes fluorescentes de mercúrio e sódio tão comuns nos centros urbanos, ou dos filtros vermelhos (Wratten 25, Wratten 29) adequados para a fotografia das nebulosas de emissão (que emitem radiação na região terminal do espectro óptico).

A realização de astrofotografias de longa pose de objectos celestes de baixa luminosidade obriga muitas vezes a que o equipamento a utilizar esteja montado de um modo permanente. Recorre-se neste caso normalmente à montagem dos telescópios fotográficos no interior de um observatório astronómico. Grande parte do equipamento óptico necessário para a realização de astrofotografias pode ser construído pelo próprio utilizador. É o caso dos telescópios reflectores que são de realização relativamente simples desde que se possua alguma destreza manual e as indicações necessárias. O mesmo é válido para as montagens de suporte dos elementos ópticos e montagens equatoriais. Existem no entanto actualmente no mercado muitos telescopios adequados para a realização de fotografias astronómicas.

Recentemente assiste-se a uma verdadeira revolução no domínio da obtenção de imagens astronómicas. O desenvolvimento de câmaras vídeo munidas de um CCD refrigerado permite a obtenção de resultados quase idênticos aos anteriormente descritos. Na realidade, dependendo do sistema utilizado (telescópio e câmara vídeo) é possível registar em apenas alguns minutos estrelas de magnitudes muito baixas (e.g. 18/19). A obtenção de imagens digitais permite a utilização de rotinas de pré- e pós-processamento mais ou menos complexas e o acesso a uma análise quantitativa rigorosa (determinaçãoprecisa de magnitudes, distâncias angulares, posição, estudo de estruturas finas de nebulosas e galáxias, etc.). A utilização da câmara escura digital (assim designada por o computador substituir o ampliador fotográfico) está ainda a dar os primeiros passos entre os astrónomos amadores. Apesar da astrofotografia convencional (emulsões fotográficas) estar longe de ser totalmente substituída pela obtenção de imagens através de processos astrovideográficos (CCD), é possível que num futuro próximo a situação seja diversa.

Prof. Dr. Pedro Ré



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