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Missões Espaciais Astronómicas

José Manuel Afonso
jafonso@astro.c.fc.ul.pt

Finalmente! Após muitos artigos a revelar os segredos das sondas enviadas pelo Homem para estudar os corpos do Sistema Solar (já repararam na quantidade?), passamos agora para o estudo do Universo que está mais além, desde os sistemas estelares vizinhos até aos confins do Universo observável. A curiosidade humana tem esta peculiaridade: apesar de poder desconhecer o que está mais perto de si, a vontade de descobrir o que está mais longe, de desafiar a imaginação com retalhos de conhecimento é omnipresente e perturbante. Na Astronomia, apesar de não podermos visitar (ainda que através de sondas) os corpos exteriores ao Sistema Solar, muitos telescópios espaciais têm estado em funcionamento para deitar (ou melhor, captar) alguma luz sobre os mistérios que abundam no Cosmos.

IUE (International Ultraviolet Explorer) - A importância das observações astronómicas em vários comprimentos de onda já há muito é reconhecida. Enquanto que observações em infravermelho revelam objectos relativamente frios (por exemplo poeira interestelar e objectos protoestelares), observações em ultravioleta detectam corpos muito energéticos, como as supernovas e os quasars. Porém, se no infravermelho a atmosfera terrestre não constitui um obstáculo absoluto (existem várias "janelas" de observação nos comprimentos de onda mais curtos do infravermelho - no infravermelho próximo), no ultravioleta a atmosfera é quase totalmente opaca (felizmente para a Vida na Terra). A solução para observações nestes comprimentos de onda é a colocação de telescópios em órbita terrestre. Um dos telescópios mais bem sucedidos na história da Astronomia foi precisamente um telescópio de ultravioleta - o IUE. Fruto da colaboração entre a NASA, a ESA e o PPARC (Particle Physics and Astronomy Research Council) britânico, o IUE foi lançado em 1978, inicialmente com uma duração prevista de 3 anos. Admiravelmente, acabou por estar em funcionamento mais de 18 anos, fornecendo dados de elevada qualidade durante todo esse tempo.

O IUE não foi desenhado para obter imagens (embora tivesse essa capacidade) mas para obter espectros, fornecendo informações sobre alguns dos elementos mais comuns do Universo. Por exemplo, o carbono e o azoto não produzem riscas espectrais muito informativas no visível, mas no ultravioleta as suas riscas são bons indicadores da sua abundância. Com o IUE, os astrónomos descobriram que a nova de 1978 no Cisne produziu uma elevada quantidade de azoto, enquanto que a supernova que criou a famosa nebulosa do Caranguejo produziu pouco carbono. Estas são pistas importantes acerca da formação de novos elementos e sobre os mecanismos responsáveis pelas explosões de estrelas.

Até ao final da missão, em 1996, foram obtidas mais de 100.000 observações de galáxias activas, estrelas, nebulosas, cometas e planetas do nosso Sistema Solar (ver figura). Aproximadamente 3.500 artigos científicos baseados em dados do telescópio foram publicados e mais de 500 teses de doutoramento usaram os resultados obtidos, o que mostra bem o sucesso da missão. Com o passar dos anos foram desenvolvidos novos algoritmos de redução de dados, optimizando a quantidade de informação que se pode obter das observações do IUE. Contudo, tal resultou na impossibilidade de comparar directamente 2 espectros de um mesmo objecto a não ser que tivessem sido reduzidos pelos mesmos processos. Para resolver este problema e também para facilitar o acesso de informação à comunidade astronómica, os dados do IUE estão a ser reduzidos novamente, usando os algoritmos e calibrações mais recentes. No final deste ano espera-se que este projecto esteja concluído e seja criada uma base de dados final das observações do IUE, que permanecerá um excelente recurso para as investigações astronómicas ainda durante muitos anos.

As observações do IUE. Os pontos (em coordenadas galácticas) revelam as posições de quasars distantes, galáxias, estrelas, nebulosas, novas e supernovas, testemunhando as capacidades do telescópio. Pode-se notar um maior número de observações numa faixa horizontal central - o plano da Galáxia - e numa diagonal que passa pelo centro - a eclíptica.

JMA



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