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Missões Espaciais Astronómicas

O Resto do Universo (cont.)

Após oito anos de funcionamento, o Telescópio Espacial Hubble obteve já mais de 120000 imagens de mais de 10000 objectos astronómicos espalhados por todo o Universo, desde os planetas nossos vizinhos até às galáxias mais distantes. Além das capacidades iniciais de observação em comprimentos de onda do óptico e ultravioleta, o Hubble possui desde Fevereiro de 1997 uma câmara para observações no infravermelho próximo, o que aumentou ainda mais a gama de fenómenos que pode estudar.

As observações ao longo destes anos ajudaram a compreender melhor muito do que já conheciamos no Universo, mas foram também reveladas facetas intrigantes e insuspeitadas de um Cosmos que ainda estamos longe de compreender. Iniciamos neste número uma descrição (necessariamente) curta de alguns dos aspectos inovadores das observações do Hubble, tentando ilustrar as contribuiçõesúnicas do telescópio para a Astronomia.

No Sistema Solar, o Hubble tornou possível a monitorizaçãoda dinâmica atmosférica dos planetas. Neste momento, vários programas de investigação seguem o desenvolvimento de tempestades de areia ou das calotes polares em Marte, auroras em Júpiter e Saturno ou tempestades nos planetas gigantes. O Hubble ajudou a observar o impacto do cometa Shoemaker-Levy 9 com Júpiter, fornecendo imagens mais detalhadas que qualquer outro telescópio. Pela primeira vez após as Voyager, foi observada uma erupção vulcânica em Io, um dos satélites galileanos de Júpiter. Outros dois destes satélites estiveram também em foco: foi descoberta a existência de ozono em Ganimedes e uma ténue presença de oxigénio em Europa (não de origem biológica, como sucede na Terra). Um dos grandes sucessos do Hubble foi a obtenção das primeiras imagens da superfície de Plutão, o que, além de permitir o seu estudo, forneceu um impulso para o desenvolvimento das missões destinadas ao último dos planetas do Sistema Solar. Não só o Hubble observou os planetas do nosso sistema solar como também obteve imagens de discos protoplanetários em torno de estrelas muito jovens. Existem indícios que a formação destes discos é um acontecimento muito comum, embora se desconheça se a sua estabilidade e a subsequente formação de planetas será igualmente frequente. Muito recentemente foi divulgada aquela que pode ser a primeira fotografia de um planeta fora do nosso Sistema Solar. Se as primeiras interpretações se revelarem correctas (e há que esperar por mais observações para ter convicções mais sólidas) trata-se de um planeta com 2 a 3 vezes a massa de Júpiter que se formou em torno de um sistema binário e que, fruto de instabilidades gravitacionais que se verificam nestes sistemas, foi ejectado do seu local de formação, estando agora a afastar-se rumo ao espaço interestelar (ver as Notícias deste número).

O nascimento das estrelas foi um dos temas mais "iluminados" pelas observações do telescópio espacial. Sabemos que nas nuvens moleculares gigantes as condições permitem a formação de estrelas de grande massa, em aglomerados de centenas ou milhares de estrelas; por outro lado, nas nuvens moleculares mais pequenas, apenas estrelas de pequena massa se podem formar e em pequeno número. Sabemos também que os processos físicos envolvidos na formação estelar são diferenciados nos dois casos e o Hubble forneceu imagens sem precedentes que elucidam alguns dos aspectos desta diferenciação. Por exemplo, na nebulosa da Águia (ou M16, no catálogo de Messier), foram observadas regiões densas que albergam a formação de centenas de estrelas. A luz ultravioleta de estrelas jovens muito massivas nas proximidades iluminam estas regiões densas, fazendo o material na sua superfície evaporar (num processo chamado foto-evaporação). Eventualmente, esta evaporação de material interrompe a formação das estrelas no interior das zonas densas, impondo assim constrangimentos ao espectro de massas das estrelas formadas. Em oposição, se as estrelas que se formam isoladamente, a acrecção de matéria para um núcleo denso só pára quando se formam ventos fortes e jactos na própria protoestrela, próximo do momento em que têm início os processos de fusão nuclear no seu interior.

O conhecimento sobre a morte das estrelas também teve desenvolvimentos muito interessantes. Em particular, novos dados foram obtidos sobre a existência dos misteriosos buracos negros, tanto na nossa como em outras galáxias. Mas estes e outros desenvolvimentos terão de esperar pelo próximo número...

JMA



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