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A Medição do Cosmos - IV

As calibrações da Astrofísica, o conhecimento da importância da poeira interestelar e das nuvens gasosas intergalácticas permitem reduzir (em finais de 70's) a constante de Hubble para os valores realistas de 75 km/s/Mpc (actual) e calibrar as idades das estrelas velhas e das galáxias em cerca de 14 mil milhões de anos. Aos poucos foi-se delineando a estrutura de buracos, vazios, grupos, enxames e aglomerados de galáxias e de grupos destas. Foi-se também desatando o intrincado novelo de velocidades relativas entre estes habitantes do cosmos, e descobre-se que o Grupo Local move-se em direcção ao supergrupo da Virgem a cerca de 220 km/s, que tem uma velocidade de 630 km/s em relação à RCF (referencial por excelência do Universo); e que temos uma componente de cerca de 500 km/s em direcção ao super-aglomerado da Hidra-Centauro. Em 1987 os Sete Samurais (Burstein, Dressler, Faber, Davies, Lynden-Bell, Terlevich e Wegner) descobrem que este super-aglomerado está a ser puxado para o Grande Atractor, uma estrutura com massa equivalente a 1016 massas solares (cerca de 105 galáxias) e duas vezes mais longínqua. Contudo, o Grande Atractor também se move, atraído pelas designadas Grandes Muralhas!

Os levantamentos recentes feitos em Las Campanas, a sua continuação no Sloan, no ESO, e mais recentemente o Canadá-França Redshift Survey elevam o número conhecido de medições e redshifts (até aos 50.000 km/s ou distâncias de cerca de 600 Mpc) a mais de 28.000 galáxias.

Prólogo ao Terceiro Milénio

O Universo parece ter uma estrutura esponjosa na distribuição da matéria bariónica. As calibrações fundamentais das distâncias executadas pelo satélite Hiparco nos anos 90 reduziram as escalas de distâncias e idades em cerca de 10%. As novas tabelas de opacidades atómicas e nucleares e os novos supercomputadores permitem calcular com maior exactidão as magnitudes absolutas de estrelas e calcular os ciclos de evolução das galáxias.

Em finais da década passada, concretiza-se o que ninguém acreditaria há 20 anos: a calibração da magnitude absoluta de supernovas de tipo Ia demonstra que o Universo está em expansão acelerada em vez da desaceleração por todos procurada durante décadas. A existência de um Universo de matéria só bariónica (a matéria escura, num factor de 10 para 1), transforma-se em apenas 5%, a adicionar a 30% de massa/energia escura exótica e a até 65% de energia cósmica (vácuo) de natureza desconhecida. O Universo que todos esperavam ter curvatura, afinal apresenta-se globalmente plano. A inflação e o Big-Bang continuam a ser a melhor teoria em campo.

A nova geração de telescópios Muito Grandes (os nomes nunca mudam...) ópticos com detectores para interferometria, será capaz de ver a formação das galáxias até aos primeiros momentos após o Big-Bang. Poderemos medir a nucleosíntese primordial, a sua evolução em galáxias primitivas até aos dias de hoje. Poderemos seguir a formação de estrelas e planetas em directo, qual programa que se assiste em televisão ao vivo. Os novos interferómetros gigantes no milímetro (ALMA) permitirão observar coisas nunca antes vistas por olhos humanos. Saberemos se a expansão acelerada é apenas um efeito local ou global. Se o Universo é fractal, perfeitamente uniforme, ou assimétrico. Poderemos medir e calcular o tempo atmosférico em Marte e Júpiter. Esperamos finalmente entender o Tempo e a Energia.

A porta do Universo abre-se de par em par. Entre por ela quem não tem medo, mas sede de conhecimento... Os dados estão lançados!

- Bibliografia:

- "O Nascimento de uma Nova Física", Bernard Cohen, Gradiva, Julho 1988

- "The Race to Measure the Cosmos", Alan Hirshfeld, Sky & Telescope, Novembro 2001

- "Medir Estrelas", António dos Reis, Edições CTT, Correios de Portugal, Fevereiro 1997

- "Galactic Astronomy", D. Mihalas e J. Binney, W.H. Freeman and Company, 1981

- "The Cosmological Distance Ladder", Michael Rowan-Robinson, W.H. Freeman and Company, 1985

- "Principles of Stellar Evolution and Nucleosynthesis", Donald Clayton, Univ. Of Chicago Press, 1983

- "Large Scale Structures in the Universe", Anthony Fairall, John Wiley and Sons, Wiley-Praxis Series in A&A, 1998

- "Universe, 6th edition", W. Kaufmann e R. Freedman, W.H. Freeman and Company, 2000.

Prof. Doutor Rui Jorge Agostinho
Centro de Astronomia e Astrofísica
da Universidade de Lisboa (CAAUL)
Departamento de Física da FCUL



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