PÁGINA 1  |  PÁGINA 2  |  PÁGINA 3  |  PÁGINA 4  |  PÁGINA 5  |  PÁGINA 6  |  PÁGINA 7
 
OS MELHORES OBSERVATÓRIOS DO MUNDO

MAUNA KEA


O topo de Mauna Kea, com alguns dos seus telescópios identificados. Cortesia telescópio Subaru, Observatório Astronómico Nacional do Japão.

  Em pleno Oceano Pacífico, na "grande ilha" do arquipélago do Havai, situa-se o maior observatório astronómico do planeta. No cume de um vulcão adormecido (Mauna Kea, ou "a montanha branca", devido ao manto branco de neve que a cobre durante grandes períodos de tempo), 4.205 metros acima do nível do mar, agrupam-se alguns dos melhores telescópios do planeta, operando em comprimentos de onda que abrangem o óptico, infravermelho, milímetro e rádio.
  O nascimento do observatório em Mauna Kea remonta aos anos 60, altura em que a Universidade do Havai procurou aproveitar as excelentes condições deste local para a prática de observações astronómicas. Acima de 40% da atmosfera terrestre, o cume de Mauna Kea proporciona um céu límpido e extremamente estável durante a esmagadora maioria das noites (existe uma discussão bastante acesa sobre se Mauna Kea proporciona melhores condições para a observação astronómica que o Cerro Paranal, no Chile). Após a colocação do telescópio de 0.6 metros da Universidade do Havai em 1969, a montanha começou a ser "invadida" por telescópios cada vez maiores, o que provocou (e ainda provoca) alguma apreensão por parte dos havaianos - Mauna Kea é considerado um local sagrado, casa dos deuses criadores e local de ligação entre o mundo divino e o terrestre. A convivência entre Astronomia e Cultura tem sido conseguida, mas requer bastante sensibilidade por parte do meio científico. A propósito das divindades do Havai, os estrangeiros são aconselhados a não remover pedaços do solo vulcânico das ilhas - os correios do Havai recebem frequentemente pacotes com estas supostas recordações, devolvidas por turistas que se sentiram vítimas da fúria da deusa do fogo vulcânico Pele ...

Pôr do Sol sobre a "Montanha Branca". Em primeiro plano podemos ver o UKIRT (à esquerda) e o GEMINI (à direita). Cortesia do telescópio James Clerk Maxwell.

  O topo de Mauna Kea não se revela apropriado para vida. As únicas formas de vida macroscópica que se passeiam pelo negro solo vulcânico são astrónomos e alguns escaravelhos, cuja a inteligência, a esta altitude, não se revela assim tão diferente: a rarefacção do oxigénio é tão elevada que se torna extremamente aconselhável preparar as observações astronómicas antes de chegar ao observatório, onde o cérebro tende a funcionar de maneira curiosa... Uma das histórias que se contam sobre Mauna Kea aponta para as dificuldades de construção do primeiro dos telescópios. Um dos trabalhadores não conseguia ajustar uma certa peça numa das paredes do edifício. Tenta vários telefonemas para Hilo (a cidade costeira onde se situa a base de apoio ao observatório) para receber instruções sobre a dita peça, mas nada parece funcionar. Tenta mais um telefonema e, sentindo-se certamente impotente para resolver a situação, desabafa: "é completamente impossível! Já cortei a peça quatro vezes e ela é ainda demasiado pequena para encaixar!"...

Acima das nuvens os telescópios KECK (o I à esquerda e o II à direita), descansam de uma noite intensa de observações. Cortesia Observatório W. M. Keck.

  A lista de telescópios em Mauna Kea é bastante extensa: para além dos "pequenos" telescópios ópticos de 0.6 m e de 2.2 m, da Universidade do Havai, do telescópio de infravermelho de 3.0 m da NASA (NASA InfraRed Telescope Facility), do telescópio de 3.6 m do consórcio Canadá-França-Havai (CFHT), e do UKIRT (United Kingdom InfraRed Telescope) de 3.8 m, existe uma colecção apreciável de "gigantes". O mais recente é o GEMINI-Norte, um telescópio de 8.1 m que possui um "gémeo" no hemisfério Sul, no Chile (e do qual falaremos num próximo número). Ambos foram construídos por um consórcio de países (EUA, Reino Unido, Canadá, Argentina, Austrália, Brasil e Chile), para fornecer telescópios modernos e com excelente instrumentação, providenciando, em conjunto, uma cobertura completa do céu. O terceiro maior telescópio em Mauna Kea é o SUBARU (nome japonês para Plêiades, e também para união).
  Com um espelho principal de 8.3 metros (que à semelhança dos GEMINI, é suficientemente fino para permitir uma deformação que possa corrigir a acção da gravidade sobre as suas 22 toneladas - a chamada óptica activa), o SUBARU é um empreendimento japonês que contém tecnologia revolucionária (e todos nós conhecemos a "queda" japonesa para tecnologias de ponta...) permitindo uma das melhores visões do Universo.

O telescópio do sub-milímetro James Clerk Maxwell, à esquerda, em reparação, sem a cobertura protectora, e à direita em preparação para mais uma noite de observações. Cortesia telescópio James Clerk Maxwell.

  Mas as estrelas de Mauna Kea são sem dúvida os telescópios KECK. Possuem a maior área colectora de qualquer telescópio actual: 10 metros de diâmetro para o espelho principal. Aliás, este não é na realidade um único espelho, mas um agregado de 36 espelhos hexagonais, cuja posição é actualizada constantemente para garantir a forma mais perfeita para o conjunto (novamente, óptica activa). A história curiosa em torno dos telescópios KECK, é que foram construídos graças ao financiamento de mais de 140 milhões de euros por parte da Fundação W. M. Keck, e são hoje pertença da Universidade da Califórnia e do Instituto Caltech, nos EUA. Dizem alguns que os astrónomos nestas instituições não conseguem sequer usar todo o tempo que têm disponível nestes telescópios...
  Para além dos telescópios para o óptico/infravermelho, Mauna Kea possui ainda um rádio-telescópio, de 25-m, para uso em interferometria com rádio-telescópios na parte continental dos EUA. Para observações no sub-milímetro temos mais uma "rica" colecção: o mais recente é o Submillimetre Array, um conjunto de 8 telescópios (ou "antenas", como também se chamam nestes comprimentos de onda) de 6 metros cada, que operam em interferometria, e que se encontram agora a realizar as primeiras observações.

Distribuição espectral de energia (ou seja, o brilho para diferentes comprimentos de onda) da galáxia Arp 220. É visível a forte emissão no infravermelho e milímetro (a vermelho, as observações com o JCMT) devida à grande quantidade de poeira existente nesta galáxia.

  Temos também o Caltech Submillimeter Observatory, de 10.4 metros, e o telescópio James Clerk Maxwell (JCMT), de 15 metros, que pertence ao Reino Unido, Canada e Países-Baixos. A observação no sub-milímetro é uma tecnologia ainda recente, mas muito promissora e que revelou já um Universo rico em poeira até agora desconhecido (o sub-milímetro revela essencialmente a emissão de poeira a baixas temperaturas, por volta dos 230 graus centígrados negativos).
  Sónia Antón e Maria João Marchã, no seu estudo de galáxias com buracos negros de fraca luminosidade, usaram precisamente o JCMT, para observar a galáxia Arp 220. Reunindo as observações a outros comprimentos de onda, obtiveram a "distribuição espectral de energia" deste objecto (ver figura). A forma desta distribuição espectral de energia indica que tipo de componentes existem na galáxia. No caso de Arp 220, existem grandes quantidades de poeira, cuja presença é revelada pelo aumento pronunciado de brilho na região do sub-milímetro.



José Afonso
CAAUL/OAL