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As Constelações
"Olha, por outras partes, a pintura
O costume de agrupar as estrelas da abóbada celeste em figuras, a que foram dados nomes de heróis, de animais ou de objectos, perde-se na noite dos tempos. A constância das posições relativas das estrelas, que não mudam sensivelmente senão depois de muitos séculos, fez com que os grupos assim formados se perpetuassem até nós com os nomes que lhes deram os primeiros observadores.
O reconhecimento dessa utilidade na vida diária, junto à maravilha, mistério e até terror que as estrelas, o Sol e a Lua inspiravam, levou-os a divinizar os objectos celestes. As crenças primitivas, a religião e a mitologia, reflectem-se assim nessas figuras imaginárias desenhadas com estrelas no céu. Muitos dos primitivos grupos de estrelas são duplicações de ideias ligadas com algum fenómeno natural - solar, lunar, ou outro. O Sol, por exemplo é representado de muitas maneiras entre os antigos, personificando um pastor, um guerreiro, um caçador, um cavalo, uma águia, etc... Por outro lado, a escuridão, o inimigo do Sol, pode tomar a figura de um enorme dragão, de uma serpente, de um escorpião, e a Lua, muito naturalmente, é relacionada com um touro ou uma vaca. O estudo dos textos primitivos em que se descrevem as constelações, bem como da forma e posição das figuras, dá-nos informações relativas aos seus formadores. De particular importância é o estudo do Zodíaco, essa faixa do céu que o Sol percorria num ano. É natural supor que aquando da sua constituição, o Sol ascendesse no Zodíaco através dos signos virados para este e, ao descê-lo o fizesse pelos signos voltados para oeste, uma lógica que dificilmente terá sido ocasional, numa harmonia que hoje se não encontra. Duas outras conclusões também imediatas se tiram: a) entre as constelações não aparecem certos animais, como o elefante, o camelo, o hipopótamo, o crocodilo, o tigre; é razoável supor que não se terão formado na Arábia, nem na Índia, nem no Egipto e b) a existência da constelação do "Navio" sugere, como origem, um país à beira mar. As constelações ter-se-ão originado na Mesopotâmia, entre os Sumérios, os Acadianos e os Babilónios, que legaram, através dos Fenícios, os seus conhecimentos astronómicos aos antigos Gregos. Foram as constelações gregas com as lendas dos seus deuses e heróis que nós herdámos. A musa grega da Astronomia, Urânia, de ouranos, "a parte do céu onde acreditamos habitarem os deuses" nas palavras de Aristóteles, era reverenciada no mundo helénico, e muitos filósofos se distinguiram nesse campo. O matemático e astrónomo grego, Eudóxio (408-355 A.C.), na sua obra Penomena, deu-nos a mais antiga descrição da nossa esfera astronómica. Os Penomena não chegaram até nós, mas o poeta Arato, um século depois, versificou-os. Este poema astronómico que se tornou famoso, havendo dele várias traduções latinas, entre elas uma de Cícero, é ainda hoje uma importante fonte, quer da ciência astronómica da época, quer dos mitos sobre as constelações.
No séc. II A.C., viveu em Rodes, o grande astrónomo Hiparco, que foi levado, pelo aparecimento de uma estrela nova, a tentar uma enumeração completa das estrelas visíveis conhecidas. Uma tarefa no entender de Plínio, o Velho, (séc. I D.C.), superior às forças humanas: "Esse Hiparco, nunca assaz louvado... atreveu-se a algo que até para um deus seria difícil... enumerar todas as estrelas...". Escreveu os Comentários, o único dos seus trabalhos que chegou até nós, uma crítica aos Penomena. Hiparco foi levado a isso, ao verificar as discrepâncias nele existentes. Realmente, a análise das posições das estrelas no poema, revela que o céu assim descrito não era o do tempo de Eudóxio e de Arato, mas o do ano 2000 A.C. (o que permite concluir ter-se Eudóxio baseado numa esfera muitíssimo mais antiga e que, segundo a tradição, teria trazido do Egipto). O que conhecemos do catálogo que Hiparco compilou, bem como do resto da sua importantíssima obra científica, encontra-se no Almagesto, título grego da Syntaxe Matemática, obra enciclopédica de Ptolomeu de Alexandria, o Príncipe dos Astrónomos (130 anos D.C.). No catálogo de estrelas nela incluído, aparecem as 48 constelações clássicas e são descritas, com as suas coordenadas celestes e respectivas magnitudes, 1028 estrelas, visíveis nas latitudes de Rodes e de Alexandria. Poucas delas têm nomes individuais: Arcturus, Sirius, Canopus, Capela, Antares, Procyon, sendo a maioria descrita cuidadosamente em função da posição que ocupa na figura. Assim temos: "a estrela da cauda do cisne", "a estrela da boca do peixe", etc... As 108 estrelas fora das figuras, eram chamadas informes. O Almagesto foi a bíblia da Astronomia até à revolução de Copérnico. Durante esse tempo o número de constelações não foi aumentado. As modernas, depois de Tycho Brahe (que separou a Cabeleira de Berenice), preenchem lacunas não só entre as clássicas, mas também na zona austral desprovida de estrelas (por não serem visíveis da latitude onde elas se originaram). As descobertas marítimas, principalmente as portuguesas, deram a conhecer o hemisfério celeste austral e assim, Bayer na sua Uranometria (1603), apresenta novas constelações não conhecidas de Ptolomeu: a Ave do Paraíso, o Grou, o Pavão... Bayer aplicou pela primeira vez letras gregas para identificar as estrelas. Hevelius cria mais 9 constelações que aparecem na sua Uranografia, (1690), por exemplo, os Cães de Caça. O astrónomo francês Lacaille, depois de uma estadia no Cabo da Boa Esperança, deu à estampa uma obra (1752), em que apareciam 14 novas constelações todas com nomes de aparelhos de arte e de ciência: o Microscópio, o Relógio, a Fornalha... No séc. XVII, houve uma curiosa tentativa de eliminar as velhas constelações e substitui-las por figuras bíblicas. Apareceu assim um magnífico atlas, obra de arte notável, Coelum stellatum christianum (1627), realizada por Julius Schiller e baseado na Uranometria de Bayer: os 12 signos do Zodíaco transformavam-se nos 12 Apóstolos, Pégaso tornava-se S.Gabriel... Em 1928, a UAI aceitou a delimitação científica das constelações por meio de paralelos e meridianos de declinação e ascensão recta, e fixou em 88 o número das constelações (Délimitation Cientifique des Constellations, Delporte,1928). Alfredina do Campo OAL |
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