Go backward to
Notícias
Go up to Top
Go forward to
Princípios
Antrópicos (continuação do
número anterior)
Rui Agostinho
ruiag@milkyway.cii.fc.ul.pt
A visualização ao telescópio de um planeta tem
constrangimentos muito grandes. A falta de luz própria faz com que
os planetas brilhem apenas por reflexão da luz da estrela a que pertencem,
e mesmo este brilho é condicionado pela sua superfície: planetas
do estilo de Mercúrio (essencialmente vulcânicos) têm
reflectividades (albedos) muito baixas (7-10%), enquanto planetas gasosos
ou cobertos por núvens (Júpiter e Vénus) têm albedos
elevados (50-80%). Além disso temos ainda o tamanho do planeta: um
planeta gigante é mais brilhante que um pequeno.
Tomemos um exemplo: se Júpiter estivesse em torno da estrela mais
próxima que temos (a ) que tem magnitude
V=0,01, a sua magnitude seria de =23,2. Observar
esta magnitude é possivel com um telescópio de 4 metros mas
com grandes dificuldades de contraste entre a estrela e o planeta: a
diferença de brilhos faz com que a imagem fique saturada pela luz
da estrela, a menos que se usem processos de tapar a luz desta (designado
por coronografia estelar). A separação angular entre estrela
e planeta seria de (segundos-de-arco). Um poder de
resolução de imagem desta qualidade é conseguido numa
noite de boas condições atmosféricas. Contudo, o exemplo
dado é o caso mais favorável de todos: um grande planeta gigante
e gasoso em torno de uma estrela muito próxima de nós. Na maioria
dos casos, e devido à distância a que as estrelas estão,
a separação estrela-planeta é inferior à
resolução angular dos telescópios modernos. Ficamos
assim restritos a uma pequena amostra de estrelas, em que observação
directa será eventualmente possível.
Que métodos se usam então para inferir a existência de
planetas extra solares? Um dos processos é observar na banda do
infra-vermelho (I.V.), onde a diferença de brilho entre estrela e
planeta é muito menor. Aliás, a existência de discos
proto-planetários tem sido detectada tanto por imagem directa (ver
figura: estrela Beta-Pictoris, imagem obtida no ESO
com detector de I.V. no NTT, com coronógrafo) como, indirectamente,
pelo excesso de radiação I.V. emitido pela estrela, assinatura
inequívoca da existência de um corpo mais frio perto da mesma.
Um outro método que se tem mostrado muito eficiente recorre ao facto
de um planeta massivo em torno de uma estrela, criar um centro de massa (CM)
comum que fica longe do centro estelar. Por isso, a estrela roda visivelmente
em torno do CM. Para um observador exterior e muito longe, a estrela parece
fazer um movimento de vai-vem contínuo, mas com o período igual
ao da órbita do planeta. Por exemplo, Júpiter provoca no Sol
um pequeno movimento destes, que atinge valores máximos de
5 m/s, na linha de visão. Este movimento afecta
por efeito de Doppler a posição das riscas espectrais da estrela
e pode ser medido por espectrógrafos de muito alta resolução,
especialmente construídos para estes estudos. Foram já detectados
por este processo vários candidatos a estrelas com planetas.
Um último método que começa agora a ser explorado, utiliza
o efeito de microlente gravitacional para detectar a presença de um
planeta, quando este passa em frente da estrela. Este princípio baseia-se
no facto de a luz estelar atraída pelo planeta (e que se iria perder),
produzir um pequeno aumento de brilho na imagem da estrela.
Estamos numa época de ouro para este tipo de trabalho, pois acercamo-nos
da entrada em funcionamento dos grandes telescópios com detectores
muito mais sensíveis. Este constitui um tema preferencial de
investigação para a astronomia futura.
Juntando o conhecimento existente sobre o Cosmos (a física da
formação e evolução de estrelas, as
condições de agregação de material para a
formação de planetesimais, a composiçãoquímica
predominante nesta parte da galáxia e a forma como isso influencia
as taxas de arrefecimento das nebulosas protoestelares), chegamos à
conclusão que a probabilidade de se formar um sistema planetário
em torno de uma estrela é bastante elevada. Porém nem todas
as estrelas formam sistemas planetários. Sabemos que, por exemplo,
estrelas de grande massa têm vidas muito curtas e explodem em poucos
milhões de anos, não dando sequer tempo à
formação (mais lenta) de planetesimais e posteriormente planetas.
Nem mesmo dão tempo a que a poeira remanescente da nebulosa inicial,
evolua de uma distribuição (pressupostamente) esférica
para uma em disco (o disco proto-planetário). Efectivamente, a
pressão da sua forte radiação ejecta a poeira para longe,
diminuindo as probabilidades de choques entre partículas de poeira,
fenómeno que normalmente as faz colapsar para um disco. Assim, ao
procurar planetas extra-solares, seleccionam-se apenas estrelas que deram
condições à formação de planetas. Entre
estas, existe um exemplo concreto: a classe das estrelas amarelas como o
Sol!
Prof. Dr. Rui Agostinho