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(Palestra do Mês)

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Fotografia Astronómica (I)

As primeiras fotografias astronómicas foram efectuadas há cerca de 146 anos, mais precisamente em 16/17 de Julho de 1850. J. A. Whipple trabalhando sob a orientação de W. C. Bond realizou o primeiro daguerreotípo de uma estrela. A exposição teve a duração de 100 segundos e a estrela fotografada foi Vega, a mais brilhante da constelação da Lyra. Cerca de 10 anos antes J. W. Draper tinha efectuado inúmeras tentativas para fotografar a Lua sem resultados satisfatórios. A enorme evolução sofrida pelas películas fotográficas nos últimos anos, sobretudo no que diz respeito ao aparecimento de emulsões coloridas (negativas e positivas) de sensibilidade média e elevada (ISO/ASA 400 a 3200) coloca a fotografia astronómica ao alcance de todos.

As primeiras astrofotografias poderão ser realizadas numa noite sem Lua e longe das luzes da cidade com o auxílio de uma câmara fotográfica (de preferência reflex) munida de uma objectiva normal (50mm f/2.8 ou mais luminosa) montada num tripé estável. Carregue a sua câmara com um filme colorido de sensibilidade igual ou superior a ISO/ASA 400. Dirija-a para um grupo de estrelas brilhantes (por exemplo a constelação da Ursa Maior) e realize com o auxílio de um disparador de cabo uma série de exposições de longa duração (30 segundos, 2 minutos e 10 minutos) tendo o cuidado de focar a objectiva a infinito e utilizar a sua máxima abertura.

Quando revelar o filme verificará que a fotografia que efectuou com uma exposição de 30 segundos apresentará imagens quase pontuais das estrelas enquanto que nas poses superiores (2 e 10 minutos) as imagens das estrelas serão traços. Estes traços estelares, como facilmente deduzirá, são devidos à rotação da esfera celeste ou se preferir à rotação da Terra. As estrelas directamente observáveis acima do equador terrestre parecem "mover-se" segundo linhas quase rectas enquanto que as estrelas próximas dos pólos celestes norte e sul parecem "movimentar-se" segundo círculos.

Poderá realizar facilmente astrofotografias das principais constelações utilizando para o efeito a técnica acima descrita e poses não superiores a 30 segundos se quiser que as imagens das estrelas sejam aproximadamente pontuais. Se utilizar um filme de sensibilidade média (ISO/ASA 400) registará deste modo um maior número de estrelas do que aquelas que são observadas à vista desarmada (numa noite limpa e sem Lua longe da poluição luminosa um observador pode avistar cerca de 2000 estrelas). Do mesmo modo podem fotografar-se outros corpos celestes (e.g. cometas, meteoros, planetas etc.). A desvantagem deste tipo de fotografia reside no facto de se registar somente as estrelas mais brilhantes. Se pretender efectuar poses superiores sem que as imagens das estrelas sejam registadas como traços terá de recorrer à utilização de uma montagem equatorial que permita "seguir" o movimento aparente da esfera celeste.

A referida montagem consiste num sistema de dois eixos perpendiculares sendo um deles (o eixo de ascenção recta ou Polar) colocado rigorosamente paralelo ao eixo norte/sul da Terra, ou seja o ângulo que faz com a horizontal iguala a latitude do lugar. A guiagem da fotografia poderá deste modo ser realizada manual ou mecanicamente através da rotação do eixo Polar (uma volta em 24h). Efectuam-se quando necessário pequenas correcções na rotação deste eixo, ou mesmo no segundo eixo, dito de declinação, que move a câmara "para cima e para baixo". Usualmente as montagens equatoriais fotográficas são motorizadas para facilitar a realização de astrofotografias de longa pose.

Pode-se deste modo registar um maior número de estrelas com o mesmo equipamento fotográfico acima descrito, uma vez que quanto maior for o tempo de exposição maior é a quantidade de informação registada. Esta última não é no entanto directamente proporcional ao tempo de exposição devido sobretudo à falha de reciprocidade exibida pela maior parte das emulsões fotográficas (as películas fotográficas não mantêm durante poses de longa duração as mesmas características, tendendo a sensibilidade a diminuir drasticamente com o decorrer da exposição).

Outro problema que pode surgir na realização de exposições longas é, tal como noutros tipos de fotografia, a sobrexposição. Na realidade apesar de grande parte dos corpos celestes apresentarem uma luminosidade pouco elevada, o advento das películas de alta sensibilidade faz com que este seja um problema a considerar. Utilizando estas emulsões rapidamente se atinje o limite a partir do qual não é possível registar mais informação mesmo que se aumente o tempo de exposição.

Se recorremos à utilização de objectivas fotográficas de distância focal média (135 mm a 300mm) podem realizar-se astrofotografias de diversos objectos celestes com óptimos resultados desde que se efectue o seu seguimento durante a pose. Exposições de poucos minutos revelarão já uma quantidade considerável de informação.

Prof. Dr. Pedro Ré



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