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Missões Espaciais Astronómicas

As observações efectuadas pelo observatório de infravermelho ISO no infravermelho médio e longínquo (entre 2.4 e 240 micron) revelaram aspectos do Universo impossíveis de observar noutros comprimentos de onda (ou a partir da superfície terrestre). A formação de estrelas foi uma das áreas de maior incidência das observações do ISO. O colapso gravitacional do material numa nuvem molecular origina a formação de núcleos pré-estelares densos envoltos em poeira, indetectáveis em comprimentos de onda no visível. Nesta fase da formação estelar, apenas o infravermelho longínquo e o rádio podem escapar, e é a observação nestes comprimentos de onda que permite o estudo da origem de uma estrela. A comparação entre as imagens no infravermelho e no óptico de uma região de formação de estrelas, como a nebulosa Trífida, ilustra bem este facto. Na imagem aqui apresentada, as regiões onde a emissão é maior no infravermelho (neste caso entre os 8 e os 15 μm) coincidem com as regiões opticamente mais opacas e é precisamente aqui que a formação de estrelas ocorre.

A nebulosa Trífida e a formação de estrelas no infra-vermelho (esquerda) e no óptico (direita). Créditos: ESA/ISO, ISOCAM, J. Chernicharo

O interesse pela formação de estrelas e as capacidades do ISO para este estudo levaram a um dos resultados mais surpreendentes desta missão: a descoberta de grandes quantidades de água nos locais de formação estelar. Pensa-se agora que a origem da água está intimamente relacionada com a origem das estrelas.

Durante as primeiras etapas da formação de uma estrela, quando se dá o colapso gravitacional do gás e poeira numa nuvem molecular, jactos são formados, gerando ondas de choque que comprimem e aquecem o hidrogénio e o oxigénio presentes no meio envolvente. São assim estabelecidas as condições apropriadas para a formação da molécula de água. As observações do ISO indicam que na nebulosa de Orion, por exemplo, quantidades imensas de água são produzidas diariamente (o suficiente para encher os oceanos da Terra várias vezes). Esta água mantém-se na proximidade das estrelas, sendo em parte incorporada mais tarde no planetas eventualmente formados. Esta explicação é consistente com a detecção, também pelo ISO, de água nas atmosferas de Júpiter, Saturno e no maior satélite deste último, Titã. No caso de Júpiter, pensa-se que vários litros de água, em forma de gelo presente nas poeiras deixadas pelos cometas, caem no planeta em cada segundo.

A presença de água em Titã, em particular, está a provocar muito entusiasmo na comunidade científica, já que se pensa que este satélite de Saturno se assemelha, em muitos aspectos, à Terra primordial. A complexa química orgânica que antecedeu o aparecimento da vida no nosso planeta pode estar presente em Titã e o seu estudo (que a sonda Huygens deverá efectuar em 2004) poderá ajudar a compreender a origem da vida na Terra.

A formação de planetas também foi um dos fenómenos a merecer observações pelo ISO. Discos de poeira em torno de estrelas jovens, remanescentes do seu processo de formação, e onde os planetas poderão mais tarde aparecer, são fenómenos já anteriormente conhecidos e a sua detecção era já esperada. Contudo, pela primeira vez, foi detectado um anel de poeira em torno de um sistema estelar binário, onde uma das estrelas é uma gigante vermelha a atravessar os seus últimos estádios de evolução. Pensa-se que a matéria ejectada pela estrela mais evoluída aquando da fase de gigante vermelha pode, no caso de um sistema binário, ficar ligada ao sistema. Tal dá origem à formação de um anel que pode ser estável por grandes intervalos de tempo e onde a formação de planetas pode ocorrer.

O ISO também efectuou observações de galáxias distantes, em particular daquelas que possuem taxas de formação de estrelas muito elevadas (starbursts). No próximo número examinaremos alguns exemplos ilustrativos destas observações.

JMA



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