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O Resto do Universo (cont.)

Em astronomia é hoje comum recorrer a observações efectuadas por observatórios em órbita terrestre. Novas zonas do espectro electromagnético são agora acessíveis (raios X ou infravermelho longínquo, por exemplo) e podem (devem) ser consideradas quando se estuda um determinado objecto ou fenómeno astronómico. Mas não são só os efeitos atmosféricos que levam a colocar observatórios em órbita terrestre, como veremos neste número.

Em geral os astrónomos procuram obter imagens com o máximo detalhe possível. Num telescópio o poder de resolução é directamente proporcional ao seu tamanho e inversamente proporcional ao comprimento de onda da radiação observada. Como no rádio o comprimento de onda (alguns centímetros) é milhares de vezes maior que no óptico (milésimas de milímetro), seria necessário um rádio telescópio (ou antena) com vários quilómetros para conseguir a mesma resolução que os telescópios ópticos. Na década de 60 foi desenvolvida uma técnica (a interferometria) na qual, através da combinação dos sinais captados por vários rádio telescópios, é possível reproduzir a resolução de um único rádio telescópio com um tamanho idêntico ao da maior separação entre as várias antenas. A técnica é bastante exigente, já que é necessário um conhecimento muito preciso das posições relativas das antenas e do instante da captação dos sinais por cada um dos elementos do conjunto.

O Very Large Array (VLA), nos Estados Unidos (27 antenas com uma separação máxima de 36 km), ou o Australia Telescope Compact Array (6 antenas e 6 km de separação máxima), são exemplos de conjuntos construídos para efectuar observações com resoluções comparáveis às dos telescópios ópticos, através da interferometria. Antenas muito mais afastadas podem também ser "agrupadas", como o Very Long Baseline Array (VLBA) que engloba 10 antenas espalhadas pelos Estados Unidos com uma separação máxima de 8000 km. A escala prossegue e é hoje possível combinar as antenas do VLBA com antenas na Europa e, desde 1997, com uma antena em órbita terrestre, o HALCA, o que possibilita a obtenção de imagens com um poder de resolução centenas de vezes superior ao do Hubble Space Telescope, graças a um afastamento máximo entre o HALCA e as antenas terrestres de 25000 km.

Lançado em Fevereiro de 1997 pelo Japão e com a colaboração de várias instituições espalhadas pelos Estados Unidos, Europa e Austrália, o HALCA é um rádio telescópio com 8 metros de diâmetro desenhado para observações a 1.6 GHz (18 cm), 5 GHz (6 cm) e 22 GHz (1.3 cm). Os objectivos científicos da observação com o HALCA baseiam-se na importância de imagens de alta resolução para o conhecimento de alguns dos fenómenos mais intrigantes do Universo. Ao longo de uma missão que se espera de cinco anos, o HALCA efectuará, em conjunto com rádio telescópios terrestres, observações de, entre outros objectos, quasares, pulsares e galáxias activas.

Um exemplo impressionante das potencialidades desta união está representada na figura seguinte. Trata-se da galáxia M87, uma galáxia elíptica gigante no centro do enxame da Virgem. No óptico consegue-se identificar um jacto proveniente do seu núcleo activo, mas é no rádio que a impressionante actividade desta galáxia se revela em toda a sua escala. A emissão nestes comprimentos de onda provém essencialmente da aceleração de electrões a velocidades relativistas no campo magnético criado pelo núcleo galáctico activo (radiação de sincrotrão). A imagem aqui apresentada foi obtida a 1.6 GHz com o VLA e mostra claramente os gigantescos jactos originados na região central da galáxia e os lóbulos formados pelo choque dos jactos com o meio intergaláctico. O detalhe provém da observação conjunta do HALCA com a rede VLBA. Repare-se no enorme poder de resolução desta última imagem, que consegue distinguir detalhes no interior da parte central da galáxia, próximo da origem do jacto onde se pensa existir um buraco negro super massivo.

Observações da galáxia elíptica gigante M87 pelo VLA (larga escala) e pelo conjunto HALCA + VLBI (detalhe da região central) a 1.6 GHz. Créditos: M. Reid, CfA.

JMA



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