Durante muito tempo pensou-se que o Sistema Solar Exterior era apenas habitado pelos quatro planetas gigantes (Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno), Plutão e uma população transiente de cometas.
Mas, em 1950, o astrónomo holandês Jan Oort propôs que o Sistema Solar estava envolvido por uma nuvem de cometas, muito distante e populosa, que ía das 50000 UA (1 UA = 150000000 km e corresponde à distância da Terra ao Sol) até às 150000 UA (quase meio caminho até Alfa-Centauri, a estrela mais próxima da Terra). Essa nuvem estava, e ainda está, muito para além das capacidades de observação dos maiores telescópios. Ainda assim, analizando as inclinações e os tamanhos das órbitas dos cometas de longo período -- i.e., períodos de milhares de anos --, conclui-se que a denominada Nuvem de Oort deveria, de facto, existir.
Durante os anos 40 e 50, o astrónomo irlandês Edgeworth e o norte-americano Kuiper, especulam sobre a existência de uma zona de pequenos corpos para além da órbita de Neptuno (a partir das 30 UA). Essa zona, a chamada Cintura de Edgeworth-Kuiper, comportaria objectos compostos por gelos e poeiras que se teriam formado por condensação dos gases e poeiras expelidos do interior do Sistema Solar pela actividade do Sol. Mas, na altura, não foi dada muita importância a esta hipótese.
Só mais tarde, quando se contabilizou que existiam muitos mais cometas de curto período, que têm geralmente inclinações baixas relativamente ao plano do Sistema Solar, do que cometas de longo período, é que as estas ideias foram recuperadas. Reparemos que, se os cometas viessem todos da Nuvem de Oort, para cada tipo de inclinação deveria existir número aproximadamente igual de cometas. Daqui se concluiu que teria de haver um outro reservatório de cometas, e esse seria a Cintura de Edgeworth-Kuiper.
Todas estas ideias parecem mais ou menos simples, mas existe aqui uma dificuldade. Se o Sistema Solar se formou do colapso de uma nebulosa num disco, como podem existir corpos distribuidos numa esfera em torno deste (Nuvem de Oort)? Uma hipótese é a de, pelo facto de o plano do Sistema Solar estar inclinado relativamente ao plano da galáxia, os corpos mais distantes do Sol, estando sujeitos a uma atracção gravitacional mais fraca deste, serem muito afectados pela gravidade do centro da galáxia. Assim, ao longo do tempo, as suas órbitas foram "torcidas" acabando por ficarem distribuídos de forma mais ou menos esférica (veja-se a figura). Os corpos da Cintura de Edgeworth-Kuiper, como já estão gravitacionalmente mais ligados ao Sol, não são perturbados da mesma forma.
Fig Na figura ilustra-se a inclinação das órbitas devido à gravidade do centro da galáxia (em cima) até se obter a Nuvem de Oort (em baixo).A passagem de uma estrela próximo da nuvem de Oort pode perturbar as órbitas dos seus objectos, desviando-os no sentido do interior do Sistema Solar, aparecendo-nos como cometas visíveis quando passam perto do Sol. Paralelamente, os cometas que vêm da Cintura de Edgeworth-Kuiper entram para dentro do Sistema Solar principalmente devido aos efeitos da gravidade do planeta Neptuno.
Presentemente já se conseguiram observar cerca de 400 objectos nesta cintura e calcula-se que devam existir cerca de 10 000 milhões. Quanto à Nuvem de Oort, estima-se que deva existir um número de cometas equivalente ao número de estrelas na galáxia (100 000 milhões).
Dr Nuno Peixinho
FCUL/CAAUL