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Editorial  

O Observatório esclarece as suas dúvidas de astronomia através do
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PESQUISAS NO PLANETA MARTE

Questão:

Em que estado se encontra a pesquisa do Planeta Marte?

  Marte é, depois da Terra, seguramente o objecto do Sistema Solar mais estudado. É também o planeta mais parecido com o nosso. A exploração de Marte com recurso a sondas começou nos anos 60. O primeiro programa global de observação foi o da Mariner 9 em 1971, mas a missão Viking (1976) foi a mais bem sucedida em termos de retorno científico, com dois orbitadores e dois módulos de aterragem.
  Até hoje nunca houve nenhuma missão tripulada, nem haverá no futuro próximo. Em 2001 Marte e a Terra passaram nos pontos mais próximos das suas órbitas e essa oportunidade foi usada para lançar uma série de missões. Este ano foi lançada uma nova série: a missão europeia Mars Express-Beagle 2 (a primeira que poderá ter uma participação portuguesa ao nível da análise dos resultados científicos) e os dois robots Mars Exploration Rover "Opportunity" e "Spirit", da NASA, que vão explorar a geologia marciana. A sonda japonesa Nozomi (Esperança), que partiu em 1998, chegará a Marte no início de 2004.
  A Mars Express é um orbitador que irá essencialmente fazer cartografia, estudar a atmosfera e o clima e procurar água debaixo da superfície. Leva também a Beagle 2, uma sonda de entrada que possui um braço robótico e uma série de instrumentos destinados a detectar a presença de vida microbiana à superfície.


  Marte é um mundo e há um mundo de pesquisas que nele se podem fazer. As mais importantes relacionam-se com a geologia da superfície e com a possibilidade da existência de água líquida, que é uma condição essencial para o desenvolvimento e existência de vida. Até hoje nunca se detectou água líquida, embora exista gelo de H2O no solo e nas calotes polares (estas são, no entanto, constituídas maioritariamente por dióxido de carbono - CO2 - no estado sólido). Contudo pensa-se que outrora correu água na superfície de Marte. Para onde foi essa água? Não sabemos. Suspeita-se que a maior parte escapou para o espaço e que a restante possa ter-se acumulado em reservatórios subterrâneos.
  De entre os resultados recentes sobre Marte, destacam-se:
- a detecção de grandes quantidades de água no subsolo, possivelmente sob a forma de rochas hidratadas;
- a cartografia completa do planeta, realizada pela sonda Mars Global Surveyor, que revelou detalhes da superfície com uma precisão (ou resolução) impressionante;
- o melhor conhecimento da atmosfera e da sua composição e meteorologia, incluindo as grandes tempestades de areia que por vezes varrem Marte;
- a ocorrência de vulcanismo no passado (Marte tem o maior vulcão do Sistema Solar, o agora extinto Mons Olympus) e a sua relação com a geologia do planeta;
- a perda do campo magnético nalguma época passada, o que pode ter levado à perda da atmosfera, "levada" pelo vento solar.
  Estes são alguns exemplos de estudos que respondem a questões passadas mas levantam muitas outras.

A ASTRONOMIA NOS TEMPOS ACTUAIS

  Porquê promover a Astronomia? Nos séculos passados esta questão tinha uma resposta rápida e bem definida: existiam aplicações imediatas para o estudo dos fenómenos ocorridos no céu. Por exemplo, conhecer o ciclo das estações permitia saber quando se deveriam lançar as sementes que garantiam a subsistência no ano seguinte. Já na época dos Descobrimentos, a observação dos astros permitia aos navegadores a determinação da sua posição no mar, e assim o seguimento da rota... Tão importantes eram os mapas e técnicas de navegação que os povos que dominavam o mundo eram os que que sabiam Astronomia e a aplicavam a técnicas de navegação marítima! Porém, a questão que se põe actualmente é a de saber porque se deve continuar a investir em Astronomia. Tal como no passado, seguramente que podemos encontrar uma relação directa entre a Astronomia de hoje e certos desenvolvimentos tecnológicos, que por exemplo levam à construção de instrumentos para a Medicina ou para a Engenharia. No entanto, o interesse em promover a Astronomia, ou qualquer outra área da investigação científica, existe para além das eventuais melhorias e aproveitamentos tecnológicos com interesse na sociedade.
  O indicador designado por desenvolvimento científico e tecnológico já há algum tempo que é um dos parâmetros utilizados para a análise da qualidade de vida de uma sociedade. O conhecimento científico não é um luxo desconexo da vida real, mas afecta de modo inequívoco a própria sociedade. Sem ele não podemos ser cidadãos plenos, pois não nos apercebemos da globalidade do que existe em nosso redor; pior ainda, desconhecemos as nossas capacidades de realização e mesmo as responsabilidades enquanto membros da sociedade. Assim, uma sociedade de visão limitada que não promova a Ciência, não estimula a curiosidade por aquilo que nos rodeia e corre o risco de se isolar e de enfraquecer perante outras.
  Infelizmente, em tempos de crise, são frequentemente a Ciência e a Educação os sectores mais penalizados, já que as consequências desta penalização só se fazem sentir dez ou vinte anos mais tarde. O incentivo político para o investimento em Ciência e Educação é baixo, também pela mesma razão! Os resultados só se fazem sentir várias legislaturas à frente (se o investimento se mantivesse de umas para as outras)...
  De uma ou doutra forma, uma coisa é certa, a História da Ciência em Portugal não perdoará aqueles que, deliberadamente ou por passividade, consciente ou inconscientemente, se constituírem como obstáculos ao desenvolvimento e modernidade na Ciência em Portugal. As vidas humanas são efémeras, sobretudo face à aparente eternidade dos fenómenos astronómicos. É sempre o Universo que ri por último!


João Lin Yun, Director do OAL
 

Ficha Técnica
O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax: 213616752; Endereço electrónico: observatorio@oal.ul.pt; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun, Maarten Roos-Serote, David Luz e Pedro Raposo. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Fergráfica, Artes Gráficas, SA, Av. Infante D. Henrique, 89, 1900-263 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.
A imagem de fundo da capa é cortesia do ESO.