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EXPLORAR O CÉU...

O TRIÂNGULO DE VERÃO


O Triângulo de Verão e as atracções principais nesta região do céu.
  No próximo dia 23 dá-se o equinócio que, para o nosso hemisfério, representa o início do Outono. Para inaugurar esta secção, e em jeito de despedida das noites estivais, convidativas à observação do firmamento, chamamos a atenção do leitor para um asterismo típico do céu de Verão: o Triângulo das Três Belas de Verão, ou simplesmente Triângulo de Verão, que estará ainda bem visível durante o mês de Setembro. Depois de cair a noite, vire-se para Oeste. Utilize o mapa da página 8 e procure identificar as "Três Belas" que perfazem o Triângulo de Verão: Vega, Altair e Deneb. São três estrelas brilhantes, facil-mente identificáveis mesmo no céu urbano. Vega, na constelação da Lira tem cor branca-azulada e encontra-se a cerca de 25 anos-luz do nosso planeta; o seu nome, de origem árabe (tal como o nome das outras duas estrelas), significa "águia em voo picado". Altair, na constelação da Águia é uma estrela azul, situada a 16 anos-luz e o seu nome significa "águia em voo". A cerca de 3260 anos-luz, Deneb, uma estrela supergigante azul, é a mais distante das três. Situada na constelação do Cisne, o seu nome significava originalmente "cauda da galinha", pois era a esse animal que os árabes associavam esta constelação, que aos gregos sugeriu um cisne. Na zona delimitada pelo Triângulo de Verão há ainda duas pequenas constelações: a Flecha e a Raposinha. A bordejar a linha imaginária que une Deneb e Altair está o Golfinho, uma pequena constelação cujas estrelas mais brilhantes se dispõem num losango, conhecido como o Caixão de Job.
  Se usufruir de boas condições de observação, irá certamente reparar numa faixa branca que atravessa o Triângulo: a Via Láctea, que não é mais do que o disco da nossa galáxia observado de perfil, a partir do seu interior. Para além de uma imensidão de estrelas, este disco contém gás e poeiras, a matéria-prima para formação de estrelas. Em certas zonas, as poeiras reúnem-se em nuvens que vedam a passagem à luz estelar. Deixe os seus olhos habituarem-se à escuridão (o que se consegue na ausência de fontes de luz e objectos iluminados - salvo se com luz vermelha - durante, pelo menos, 20 minutos) e tente observar a Fenda do Cisne, uma destas nuvens negras que se estende contra o fundo estelar, entre o Cisne e a Seta.

A nebulosa planetária M57, como revelada pelo telescópio espacial Hubble (HST). Esta bonita nebulosa, que resultou da morte de uma estrela semelhante ao Sol, pode ser observada com o auxílio de um pequeno telescópio. Cortesia de H. Bond et al., Hubble Heritage Team (STScI / AURA) e NASA.

  Equipe-se com um binóculo (os binóculos 7x50 são ideais para as observações astronómicas) e comece por apontar, simplesmente, para a Via Láctea. Confirme que a referida faixa branca é constituída por miríades de estrelas. Galileu, pioneiro das observações telescópicas, terá sido, no séc. XVII, o primeiro a fazer esta constatação impressionante. Depois procure a estrela gLyrae. Verá que se trata não de uma, mas de duas estrelas - ou seja, uma estrela dupla. Na realidade, é uma dupla-dupla, isto é, cada uma destas duas componentes consiste também, por sua vez, numa estrela dupla (note que a resolução das quatro componentes não é acessível com binóculos). Ainda utilizando o binóculo, procure os enxames estelares abertos M29 e M39. O primeiro, menos notável, situa-se junto à estrela Sadr, do Cisne. M39, situado fora do Triângulo, nas imediações de Deneb, é mais distinto, pois as suas estrelas dispõem-se num pequeno triângulo.
  Um telescópio (de preferência com abertura de 8 cm ou superior) dará acesso a outros objectos de especial interesse nesta região celeste. Comece por apontar o telescópio para Albireo (em árabe, "o bico"), a estrela do Cisne que, na figura, marca o extremo da linha que parte de Deneb e passa por Sadr. Trata-se de uma estrela dupla cujas componentes apresentam cores dife-rentes: uma azul, outra amarelada, o que propor-ciona um interessante contraste. Na constelação da Lira, procure a Nebulosa do Anel (M57), uma notável nebulosa planetária a 2300 anos-luz do Sistema Solar. Para completar esta primeira exploração do Triângulo de Verão procure localizar M27, a Nebulosa do Haltere, situada na constelação da Raposinha, a 1250 anos-luz. Se possuir um telescópio com montagem equatorial, utilize as coordenadas que se seguem (a.r.: ascensão recta; dec.: declinação): M57, a.r. 18h 54m, dec. 33º 2´; M27, a.r. 19h 59m, dec. 22º 44´. Se conseguir bons resultados utilizando estas coordenadas, aproveite para localizar também, nesta região, os enxames globulares M56 e M71, cujas coordenadas são: M56, a.r. 19h 17m, dec. 30º 11´; M71, a.r. 19h 54m, dec. 18º 48´.
  A consulta de cartas celestes detalhadas ou a utilização de software especializado poderão facilitar as buscas.

Pedro Raposo
OAL