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Editorial
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O Observatório esclarece as suas dúvidas de astronomia através do endereço electrónico:consultorio@oal.ul.pt
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SER ASTRÓNOMO
Questão:
O que faz um astrónomo? Passa o tempo a espreitar através do telescópio?
Comecemos por esclarecer o que significa nos dias de hoje, a palavra "Astronomia". Em primeiro lugar existem astrónomos amadores e astrónomos profissionais. A distinção entre estes dois grupos é fácil. Astrónomos profissionais são investigadores que, após a conclusão de uma Licenciatura científica (normalmente em Física), efectuaram trabalho que os levou à elaboração e defesa de uma tese de doutoramento em Astronomia. Astrónomos amadores pelo contrário não possuem estudos aprofundados em Astronomia. Contudo, desempenham um papel importante sobretudo ao nível da divulgação e na manutenção do interesse do público. Alguns colaboram mesmo com os profissionais em projectos de investigação científica avançada.
Também o significado da palavra "Astrofísica" necessita de ser esclarecido. Neste caso, a confusão começa desde logo na distinção entre "Astronomia" e "Astrofísica". Esta distinção já é um pouco mais difícil de se fazer. Na realidade, Astronomia moderna é praticamente o mesmo que Astrofísica. Em qualquer país de língua inglesa, a palavra "Astronomy" é comummente usada com esse significado e só nas universidades se utiliza também a palavra "Astrophysics". Os organismos internacionais fazem sempre referência a "Astronomia", como por exemplo a "International Astronomical Union", a IAU, o órgão máximo de Astronomia mundial. Nesta acepção, "Astronomia" significa algo de mais vasto que "Astrofísica", incluindo as vertentes históricas ou mais matemáticas da Astronomia que normalmente caem fora daquilo que se entende por "Astrofísica".
O que faz então um astrónomo (profissional)? Seguramente não passa o tempo a espreitar através do telescópio. Tais como outros investigadores, os astrónomos profissionais podem ser teóricos ou experimentalistas ("observacionalistas"). Em ambos os casos, os astrónomos começam por conceber um projecto científico com metas bem definidas (por exemplo, descobrir que factores determinam a massa final de uma estrela, ou como varia a luminosidade de uma estrela durante a contracção gravitacional da nuvem de gás denso que lhe dá origem). Partindo do conhecimento actual sobre um dado assunto, propõem executar um conjunto de passos para alcançar essas metas. O conjunto de passos a executar difere consoante o investigador é um teórico ou um observacionalista. No primeiro caso, os passos consistem em cálculos analíticos e numéricos, incluindo programação/modelação em computador para construir modelos dos objectos ou fenómenos celestes que desejam tentar explicar. No segundo caso, os passos a executar envolvem a concepção, preparação e execução de observações astronómicas para obtenção de dados experimentais que são depois reduzidos e analisados, com a interpretação dos resultados de modo a construir ciência nova.
Em ambos os casos, astrónomos teóricos ou observacionalistas têm um objectivo comum: o de ficarmos a saber um pouco mais sobre o Universo em que vivemos.
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O QUE DEFINE UM ASTRÓNOMO (PROFISSIONAL)?
Poder-se-ia pensar que a resposta a esta pergunta é óbvia. Confrontada com esta questão, qualquer pessoa responderia provavelmente que um astrónomo é alguém que estuda as estrelas, ou o Espaço. Contudo, podemos compreender a pertinência desta questão quando consideramos que, em Portugal, as duas seguintes ideias (erradas) vigoram um pouco por todo o lado, até mesmo nos meios mais letrados: 1ª) profissionais de quaisquer áreas científicas, se trabalham em áreas afins ao Espaço, podem ser considerados astrónomos ou astrofísicos; 2ª) tudo o que diz respeito ao Espaço tem a ver com Astronomia.
Na realidade, apesar de vários investigadores trabalharem em áreas de fronteira com a Astronomia, estes não podem ser automatica-mente considerados astrónomos ou astrofísicos. A definição científica internacional, séria e rigorosa, é a seguinte: um investigador pode ser considerado astrónomo (ou astrofísico) se publica o seu trabalho de investigação em revistas científicas internacionais especializa-das, reconhecidas como sendo revistas de Astronomia e Astrofísica. As mais importantes, onde publicam mais de 90% dos astrofísicos de todo o mundo, são: Astronomy & Astrophysics, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, Astrophysical Journal, Astronomical Journal, Icarus, Journal of Geophysical Research.
Por outro lado, nem tudo o que diz respeito ao Espaço tem a ver com Astronomia. Por exemplo, durante o desastre do vai-vem Columbia, muitos de nós, astrónomos, fomos assediados pela comunicação social para comentarmos o acontecimento. Pela minha parte, recusei e tive que explicar repetidamente que por ser astrónomo, não tinha que ter conhecimentos de astronáutica, uma disciplina bem diferente, e que essa sim tinha a ver com o desastre do Columbia.
Um astrónomo investiga questões tais como: a formação e evolução das estrelas, se existem outros sistemas planetários como o nosso e com que características, como nasceu o Universo, o que são as explosões de raios gama, como funciona um quasar, qual a estrutura da nossa Galáxia e como se formou, etc, etc.
João Lin Yun, Director do OAL
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Ficha Técnica
O Observatório é uma publicação do Observatório
Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone:
213616739, Fax: 213616752; Endereço electrónico: observatorio@oal.ul.pt; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio.
Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun, Maarten Roos-Serote. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Fergráfica, Artes Gráficas, SA, Av. Infante D. Henrique, 89, 1900-263 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.
A imagem de fundo da capa é cortesia do ESO.
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