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COMETAS LONGE, COMETAS PERTO

  Os poderosos telescópios do VLT acabam de bater mais um recorde. Desta vez, uma equipa de astrónomos obteve uma imagem do cometa Halley nos confins do Sistema Solar, num recorde de distância para a detecção de um cometa. A imagem permitiu verificar que o cometa está completamente inactivo, não passando de uma "pequena" bola de gelo sujo.
  Não há nenhum cometa tão famoso como o de Edmund Halley. Este corpo tinha já sido observado há mais de 2000 anos, já que se aproxima do Sistema Solar interior uma vez em cada 76 anos, aproximadamente.
  No entanto, foi em 1705 que Halley se apercebeu da periodicidade deste cometa, tendo previsto que se aproximaria do Sistema Solar interior em 1758, facto que se viria a verificar.
  Quando um cometa se encontra perto do Sol, a radiação solar aquece-o, fazendo com que os gelos na sua superfície sublimem. Este processo leva à formação das tão espectaculares caudas cometárias, que se estendem por milhões de quilómetros enfeitando os céus.
  No entanto, assim que a sua órbita o leva para regiões mais distantes e frias no Sistema Solar, um cometa torna-se inactivo e apenas pode ser observado com o auxílio de grandes telescópios.
  Foi exactamente isso que uma equipa de astrónomos europeus acabou de fazer. Dezassete anos depois da última passagem do cometa de Halley pelo Sistema Solar interior, uma imagem obtida com um dos telescópios do VLT permitiu observar este objecto "lendário". A imagem (ver figura) foi obtida quando o Halley se encontrava a cerca de 4.200 milhões de quilómetros da Terra, praticamente a distância à órbita de Neptuno, e revelou um pequeno ponto luminoso com uma magnitude visual de 28,2, ou seja, cerca de 1.000 milhões de vezes menos brilhante que a estrela mais fraca que se consegue ver a olho nu. Sabendo que este tem um diâmetro de aproximada-mente 10km


Esquerda: imagem obtida com o VLT do cometa de Halley em Março de 2003. Dada a grande distância a que se encontra do Sol, o cometa está completamente inactivo e pouco brilhante (é a mancha débil no centro da imagem). Cortesia do ESO. Direita: Imagem do núcleo do cometa de Halley obtida pela sonda Giotto, aquando da passagem deste pelo sistema solar interior em 1986. A Giotto permitiu verificar que o núcleo do Halley não passa de uma bola de gelo sujo em forma de "batata" e cujas dimensões são da ordem dos 10 km. Cortesia da Halley Multicolor Camera Team, do Giotto Project, e da ESA.

(algo que se conhece desde que a sonda Giotto fotografou o Halley - ver imagem), a imagem obtida equivale à detecção de um fragmento de carvão com 5 cm de diâmetro à distância de aproximadamente 20 mil km.
  A imagem permitiu igualmente verificar que o Halley se encontra completamente inactivo. Tal como esperado, o que os astrónomos estão agora a observar é apenas o seu núcleo gelado. Para voltarmos a ver este cometa em todo o seu esplendor teremos de aguardar até 2062, altura em que o Halley volta a aproximar-se do Sol.

Nuno Santos
CAAUL/OAL

 
A FORMA DE UMA EXPLOSÃO DE SUPERNOVA

  Usando o VLT, uma equipa internacional de astrónomos mediu pela primeira vez a forma da explosão de uma supernova de tipo Ia. Os resultados mostram que esta explosão não é totalmente simétrica o que, curiosamente, pode ter enormes implicações para o estudo da origem do Universo.
  Quando uma estrela semelhante ao Sol "morre" dá origem a uma chamada estrela anã-branca (ver O Observatório, Vol.9, N.º 4). Em geral, estas estrelas não são capazes de produzir energia através de reacções nucleares, e acabam por arrefecer gradualmente até se tornarem quase invisíveis. No entanto, quando uma anã-branca tem à sua volta uma estrela do tipo do Sol o desfecho pode ser bem diferente.
Imagem da galáxia NGC1448 albergando a explosão da supernova de tipo Ia, denominada de SN2001el (o ponto luminoso indicado na imagem). Esta explosão libertou mais energia do que a emitida normalmente por toda a galáxia. Cortesia do STScI e do ESO.

Em particular, se os dois corpos estiverem muito próximos, pode-se dar o caso de haver transferência de material para a anã-branca. A dada altura, esta pode não aguentar mais a pressão causada pelo aumento da sua massa. Quando tal sucede, explode numa Supernova de tipo Ia.
  O grande interesse neste tipo de supernovas prende-se com o facto de se pensar que esta explosão ocorre sempre de forma semelhante, libertando sempre a mesma quantidade de energia. Desta forma, quando uma destas explosões ocorre numa galáxia distante, podemos indirectamente saber a que distância está a galáxia (pois conhecemos o brilho da supernova).
  Agora, uma equipa de astrónomos utilizou o VLT para estudar a forma de uma supernova de tipo Ia. Através de uma técnica chamada de polarimetria (que permite medir o grau de polarização da radiação emitida por um objecto) os astrónomos conseguiram verificar que este tipo de supernovas não tem uma forma exactamente esférica. Na realidade, os resultados mostram que esta é alongada, sendo um dos eixos do esferóide cerca de 10% maior que o outro.
  Mas quais as implicações desta descoberta? Ora, se a explosão não é simétrica, supernovas deste tipo que sejam observadas segundo ângulos diferentes vão mostrar diferentes brilhos. Deste modo, a utilização de supernovas de tipo Ia para determinar a distância a galáxias longínquas pode ser afectada.
  A boa notícia, no entanto, é que os resultados mostram igualmente que esta assimetria é sobretudo evidente durante os primeiros dias após a explosão. À medida que o gás expande e se torna menos denso, começamos a observar as camadas de gás mais internas. Ora, as observações mostram que estas camadas são mais simétricas, e portanto, o brilho da Supernova torna-se independente do ângulo de observação. Ainda assim, as supernovas de tipo Ia parecem ser a melhor forma de medir a distância a galáxias distantes.

José Afonso
CAAUL/OAL