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Imagens da Superfície de Titã

  Imagens obtidas com uma câmara de infravermelho do telescópio de 8.2-m Yepun, do VLT (ESO), permitiram ver detalhes nunca antes observados na superfície de Titã. Os resultados mostram o que podem ser oceanos de hidro-carbonetos.

Duas imagens de Titã obtidas com o VLT: à esquerda, num comprimento-de--onda em que a atmosfera é transparente, e à direita num outro em que esta é completamente opaca. Cortesia do ESO.

  Titã, a maior lua de Saturno, é o único satélite de um planeta do Sistema Solar que possui uma atmosfera densa, constituída principalmente de azoto (tal como é o caso da atmosfera terrestre), mas também possuindo grandes quantidades de metano. Mais ainda, estudos recentes mostraram que este satélite pode ter grandes "lagos" de hidrocarbonetos, e possuir um ciclo meteorológico baseado no metano, mas em tudo semelhante ao ciclo hidrológico terrestre, com "chuvas" e possíveis "oceanos".
  No entanto, a atmosfera de Titã é tão fascinante como comprometedora, já que a presença de nuvens, névoas e moléculas orgânicas complexas nos impedem uma fácil observação da superfície do satélite. No entanto, em algumas bandas espectrais (comprimentos-de-onda) bem definidas, esta atmosfera é relativamente transparente.
  Durante os últimos anos, os astrofísicos tentaram assim observar a superfície de Titã utilizando instrumentos capazes de observar nesses comprimentos-de-onda. Mas até agora os instrumentos não permitiam fazer esse tipo de observação, resultando em imagens que continham informação sobre a própria atmosfera. Era como se estivéssemos a observar Titã através de uma bruma.
  Agora, uma equipa internacional de astrónomos utilizou um novo instrumento do VLT para obter imagens numa banda muito estreita do infravermelho (à volta de 1.575 microns) em que a atmosfera de Titã é quase transparente.
  O novo instrumento, ligado ao sistema de óptica adaptativa NACO (que permite corrigir parte do efeito de distorção causado pela atmosfera terrestre na luz de objectos celestes) permitiu assim obter imagens com uma resolução nunca antes alcançada de uma parte da superfície da maior lua de Saturno.
  Estas imagens mostram que Titã possui uma superfície que contém regiões mais escuras, que reflectem menos luz solar que as zonas circundantes, e que devem corresponder a regiões com uma estrutura e composição química diferente. Embora não seja possível neste momento verificar o que produz o padrão observado, os astrofísicos pensam que estas zonas podem corresponder a "lagos" de hidrocarbonetos, já antes detectados com observações de radar.
  A química complexa que existe em Titã coloca-o numa posição privilegiada para o estudo dos processos que podem ter sido responsáveis pelo aparecimento de vida na Terra.
  Em 2005, a sonda Huygens (ESA/NASA) vai chegar a Titã, mergulhando na sua atmosfera e estudar com grande precisão as condições físicas e a composição química deste satélite.


Nuno Santos
CAAUL/OAL

 

Confirmada a existência de metano em Marte

A sonda da ESA Mars Express continua a sua exploração de Marte. Desta vez a novidade é a detecção de metano, uma molécula cuja origem no planeta vermelho continua um mistério... será porventura um resto de actividade biológica...? Cortesia: ESA e Medialab.

  Observações da sonda Mars Express (ESA), actualmente em órbita de Marte, permitiram confirmar a existência de metano na atmosfera do planeta vermelho. A importância desta descoberta reside na origem ainda desconhecida deste composto - como não pode perdurar na atmosfera marciana por mais de algumas centenas de anos, o metano deve estar a ser produzido continuamente: por actividade vulcânica ou até mesmo por vida marciana.
  A primeira detecção de metano na atmosfera marciana foi efectuada em Setembro passado por uma equipa liderada por Michael Mumma (NASA), através de observações com o telescópio de infravermelho da NASA, no Hawai, e o telescópio Gemini-Sul, no Chile. Agora, a sonda da ESA Mars Express, em órbita de Marte, analisou a luz solar reflectida pela atmosfera do planeta e identificou vários elementos químicos, confirmando a presença do metano, numa abundância extremamente baixa: apenas uma em cem milhões de moléculas da atmosfera marciana é de metano.
  Contudo, mesmo nestas quantidades, a presença deste composto é surpreendente. Reacções com os restantes elementos na atmosfera marciana oxidam o metano rapidamente, produzindo água e dióxido de carbono. Qualquer quantidade de metano deveria pois perdurar apenas algumas centenas de anos. Portanto, algo deve estar a produzir o composto, libertando-o continuamente na atmosfera. A possibilidade mais óbvia (com base no que acontece na Terra) é a actividade vulcânica. Contudo, e apesar de muitas missões terem já estudado o planeta vermelho, nunca foi detectada actividade vulcânica em Marte.
  Mas outras hipóteses existem. Na Terra, o metano é um sub-produto da actividade biológica (em processos de fermentação, por exemplo). Se nos próximos meses a Mars Express continuar sem detectar actividade vulcânica no planeta, então a hipótese da vida marciana terá de ser considerada.
  Para já, interessa mapear a distribuição do metano na atmosfera de Marte, procurando identificar qual a sua origem. Um trabalho à medida da Mars Express, na sua exploração detalhada do nosso planeta vizinho...


José Afonso
CAAUL/OAL

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