Página - 1 2 3 4 5 6 7

A Primeira imagem de um Planeta Extra-solar?

  Uma equipa internacional de astrofísicos conseguiu pela primeira vez uma imagem do que pode ser um planeta gigante a orbitar uma outra estrela.
  Obter uma imagem de um planeta extra-solar é um dos grandes desafios com que os astrofísicos se deparam hoje. A grande dificuldade deve-se ao facto de que em comprimentos de onda visíveis pelo olho humano, uma estrela semelhante ao Sol ser cerca de mil milhões de vezes mais brilhante que um planeta que gire em seu torno. Embora esta diferença seja menos acentuada se observarmos no infra-vermelho, a grande proximidade a que o planeta se encontra da estrela (quando comparada com a distância que nos separa dos dois) acaba por tornar a detecção directa de um exoplaneta extremamente complicada: este não é mais do que um pequeno ponto de luz ofuscado pelo "farol" que é a estrela.
Imagem obtida com o instrumento NACO, do VLT, da estrela 2M1207 (azul), mostrando a presença de um possível planeta ao lado (vermelho). Cortesia de G. Chauvin e do ESO.
  Para colmatar este problema, os astrofísicos têm utilizado técnicas indirectas para detectar planetas extra-solares. A chamada técnica das velocidades radiais, que mede a variação da velocidade de uma estrela causada pela influência gravitational do planeta em órbita, permitiu já descobrir cerca de 130 planetas a orbitar outras estrelas na vizinhança solar, alguns dos quais podem mesmo ser rochosos como a Terra (ver O Observatorio, Vol. 10, nº 8).
  Mas agora, uma equipa internacional de astrofísicos utilizou o instrumento NACO, num dos telescópio do VLT (ESO, Chile), para obter aquela que pode ser a primeira imagem de um planeta extra-solar. O pequeno corpo, que orbita a estrela 2M1207, parece ter uma massa de apenas 5 vezes a massa da Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar.
  No entanto, existe ainda uma série de dúvidas quanto à natureza do suposto "planeta". Por exemplo, não há ainda a certeza se este objecto se encontra realmente ligado à estrela, ou se é apenas um objecto de fundo. Esta hipótese é pouco provável, mas os astrónomos contam fazer novas observações nos próximos anos para poder comprovar este facto.
  Mas mais do que isso, a distância que separa o suposto "planeta" da sua estrela é superior a 50 Unidades Astronómicas (1 UA equivale à distância média da Terra ao Sol). Considerando que a estrela 2M1207 é do tipo anã-castanha, com apenas 25 vezes a massa de Júpiter (e 5 vezes mais massa do que o próprio planeta), parece pouco provável que se consiga formar um planeta gigante a essa distância da sua estrela. Esta dificuldade é corroborada pelas teorias de formação de planetas gigantes.
  Embora seja neste momento difícil dizer se o corpo que orbita a 2M1207 é ou não um planeta, esta descoberta mostra pelo menos que a obtenção de imagens de planetas extra-solares já não é apenas um sonho.


Nuno Santos
CAAUL/OAL
 

Imagens de um Cataclismo Cósmico

  Colisões entre galáxias são acontecimentos catastróficos (e frequentes) no Universo. Mas não passam de acontecimentos menores quando comparados com colisões entre enxames de galáxias, envolvendo milhares de galáxias e biliões de estrelas. É um verdadeiro cataclismo cósmico, agora observado com o telescópio espacial de raios-X da Agência Espacial Europeia XMM-Newton.
  Os enxames de galáxias são as maiores estruturas gravitacionalmente ligadas do Universo. Podem conter até centenas de milhares de galáxias, frequentemente colidindo umas com as outras, possivelmente até sendo "devoradas" por uma galáxia super-gigante dominante. Mas mesmo estas super-estruturas cósmicas podem interagir com outras, podendo mesmo colidir, originando o fenómeno mais energético jamais observado após o Big Bang.
A imagem revela a pressão do gás em torno dos dois enxames que constituem o Abell 754, cada um contendo milhares de galáxias. Estas estão localizadas nas regiões de maior pressão (a branco, na imagem): as galáxias de um dos enxames na região imediatamente à esquerda e abaixo da parte central da imagem, as do segundo enxame, mais pequeno, imediatamente à direita e acima. Cortesia: ESA, XMM-Newton e Patrick Henry e colaboradores.
  O telescópio espacial de raios-X XMM-Newton observou agora um destes eventos. Observações do enxame Abell 754 permitiram mapear com grande precisão a sua temperatura, pressão e densidade, permitindo reconstruir a sua história recente. E a história é catastrófica. Há 300 milhões de anos existiam dois enxames de galáxias distintos, porém, já com o futuro traçado. Tal como em todos os enxames, a maior parte da matéria não se encontra sob a forma de galáxias, mas sim como gás, preenchendo o espaço inter-galáctico. A força gravitacional envolvida na colisão acelerou este gás a velocidades enormes. Galáxias foram atiradas para longe das suas trajectórias originais e ondas de choque gigantescas foram formadas, aquecendo o gás a temperaturas de milhões de graus, muito superiores às existentes na superfície solar. O "choque de titãs" passa despercebido no óptico, mas é claramente visível nos raios-X, emitidos em profusão pelo gás quente, como revela a imagem do XMM-Newton. Um dos enxames passou já através do outro e será agora puxado novamente para o interior deste último. Durante os próximos milhares de milhões de anos, os remanescentes dos enxames atingirão o equilíbrio e a colisão ficará completa.
  A observação ilustra bem a teoria actual de evolução do Universo - os elementos (galáxias, enxames) mais pequenos vão lentamente colidindo e formando estruturas cada vez maiores. Esta investigação implica também que as maiores estruturas do Universo encontram-se ainda em formação - o Abell 754 encontra-se a "apenas" 800 milhões de anos-luz. Contudo, se as descobertas recentes sobre a aceleração do Universo estiverem correctas, e a expansão do Universo estiver cada vez mais rápida, os enxames de galáxias ficarão a distâncias cada vez maiores, deixando de haver a possibilidade de colisões.


José Afonso
CAAUL/OAL
© 2004 - Observatório Astronómico de Lisboa