PÁGINA - ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 ) ( 7 )
 

Oxigénio e carbono num planeta extra-solar

  Uma equipa internacional de astrónomos detectou pela primeira vez a presença de átomos de oxigénio e carbono a evaporar da atmosfera de um planeta extra-solar. Esta descoberta parece mostrar que os planetas gigantes que se encontram muito perto das suas estrelas podem perder completamente a sua atmosfera.

Ilustração do fenómeno de evaporação observado no planeta que orbita a estrela HD209458. Cortesia da Agência Espacial Europeia, Alfred Vidal-Madjar (Instituto de Astrofísica de Paris, CNRS, França) e NASA.

  O número de planetas conhecidos a orbitar outras estrelas (os chamados planetas extra-solares) não pára de aumentar, sendo hoje conhecidos quase 120. Mas um entre eles tem merecido especial atenção. Trata-se do planeta que orbita a estrela HD209458, uma estrela semelhante ao Sol, que brilha com uma magnitude aparente de 7,6 na constelação do Pégaso.
  O grande interesse deste planeta (HD209458b) prende-se com o facto de ser até agora o único planeta extra-solar conhecido que, visto a partir da Terra, passa em frente à sua estrela, produzindo um chamado trânsito planetário (equivalente ao trânsito de Vénus que será observável no próximo mês de Junho). Este facto, que se pode observar uma vez em cada 3,5 dias (uma vez em cada órbita do planeta em torno da HD209458) permitiu não só confirmar que o HD209458b é realmente um planeta, mas igualmente desenvolver uma série de estudos complementares sobre a sua atmosfera.
  Cada vez que este planeta passa em frente da HD209458, alguns dos raios de luz emitidos pela estrela vão passar através da sua atmosfera. Esta vai assim funcionar como uma espécie de filtro, absorvendo a luz em certos comprimentos de onda específicos, que correspondem a transições electrónicas que ocorrem em átomos ou moléculas presentes.
  Usando este facto, já em 2001 uma equipa liderada pelo astrofísico canadiano David Charbonneau conseguiu detectar a presença de sódio na atmosfera do HD209458b. Mais recentemente, no início de 2003, uma equipa liderada pelo astrofísico francês Alfred Vidal-Madjar verificou que o planeta tinha uma vasta atmosfera de hidrogénio, estendendo-se para lá da influência gravitacional do planeta, que se está literalmente a evaporar (ver O Observatório, Vol.9, Nº2).
  Agora, a equipa de Vidal-Madjar usou o espectrógrafo STIS, a bordo do telescópio espacial Hubble (HST), para procurar evidências da presença de outros elementos na extensa atmosfera do HD209458b. As observações mostram fortes indícios da pre-sença de oxigénio e carbono, que parecem estar a ser arrastados pelas moléculas de hidrogénio.
  Esta descoberta mostra que o planeta que orbita a estrela HD209458 está a perder grande parte da sua massa, e levanta uma série de questões sobre a sobrevivência de planetas gigantes a distâncias muito pequenas da sua estrela. O processo que agora ocorre no HD209458b pode levá-lo mesmo a transformar-se num planeta sem atmosfera.


Nuno Santos
CAAUL/OAL

 

O fim do Telescópio Espacial Hubble ?

  Após 14 anos a ajudar os astrónomos a compreender o Universo, o Telescópio Espacial Hubble parece enfrentar uma sentença de morte antecipada. No passado mês de Janeiro, e na sequência das investigações sobre o acidente do vaivém Columbia e das novas prioridades espaciais dos EUA anunciadas pelo presidente George Bush, o administrador da NASA, Sean O'Keefe anunciou o cancelamento de futuras missões de manutenção do telescópio.

O Telescópio Espacial Hubble, em órbita terrestre, continua a efectuar descobertas sobre o Universo apesar do seu fim anunciado... Cortesia da NASA.

  Na base da decisão estarão preocupações com a segurança de missões do vaivém. As recomendações da comissão de inquérito ao desastre do Columbia, em Fevereiro de 2003, que a NASA se obrigou a cumprir, apontam nomeadamente para a necessidade de inspeccionar e reparar um vaivém em órbita. No caso de missões para a Estação Espacial Internacional (cuja construção continuará a usar os vaivém), esta possibilidade é oferecida pela própria Estação, que tem espaço para peças, ferramentas e mesmo para albergar os astronautas durante algum tempo se para tal houver necessidade. Missões ao Telescópio Espacial Hubble teriam de desenvolver ferramentas e técnicas que não teriam uso posterior - recorde-se que as novas directivas para a política espacial dos EUA, incluem a construção da Estação Espacial Internacional e o término do programa de vaivém da NASA até 2010.
  Desde o seu lançamento, em 1990, o Hubble tem-se mantido como um dos mais avançados instrumentos de observação do Universo, graças às missões de manutenção, que repõem componentes avariados e instalam novos instrumentos, cada vez mais poderosos. O sucesso destas missões e o sucesso científico das observações com o Hubble, apelidado já de "o exercício astronómico mais bem sucedido da História", haviam estendido o seu tempo previsto de operações dos iniciais 15 para 20 anos, até 2010. Pouco depois, em 2011, espera-se que o seu sucessor, o telescópio James Webb, seja colocado em órbita.
  Com o cancelamento das missões de manutenção, o Hubble continuará a observar o cosmos com os instrumentos que possui actualmente, até que os seus giroscópios (que permitem apontar o telescópio), as suas baterias ou outro componente vital, falhe. Tal poderá acontecer dentro dos próximos três anos.
  Entretanto, muitas vozes (de astrónomos, membros do congresso e do público em geral) têm-se levantado contra a decisão da NASA, e um segundo parecer foi já pedido ao coordenador da agora extinta comissão de inquérito ao acidente do Columbia. Possibilidades de estender o tempo de vida do Hubble encontram-se já a ser estudadas pelos engenheiros responsáveis pelo telescópio, no sentido de manter o Hubble a fornecer a visão ímpar do Universo a que já nos habituou, e de afastar esse dia negro para o Hubble e para a Astronomia...


José Afonso
CAAUL/OAL

© 2004 - Observatório Astronómico de Lisboa