Editorial
Também a mim, ninguém me cala...!
O mês de Março chegou e com ele a promessa da Primavera, a estação do renascer da Natureza, das flores, dos sorrisos. Março chegou e com ele o final do Inverno. Um Inverno especialmente frio, em vários sentidos.
Ao fim de três anos e meio como Director do OAL (e de sete anos e meio a "reconstruir" e a reabilitar o OAL), chegou a altura de abandonar a Direcção desta casa. Durante este tempo, sem qualquer remuneração, pus de lado o trabalho científico pessoal para poder dedicar-me 100% a trabalhar para o desenvolvimento justo e harmonioso da Astronomia e Astrofísica na Universidade de Lisboa. Apesar de todo o sucesso nas iniciativas e gestão do OAL durante este período, claramente reconhecido pelo público em geral e por instituições, professores e estudantes em particular, abandono a Direcção do OAL com uma profunda desilusão pela forma como funcionam os meios universitários, com a sua submissão à influência dos mais velhos e alegadamente mais poderosos, em vez de serem lugares de pessoas mais esclarecidas e livres que a sociedade julga serem. Assim, após mais de vinte anos de grande dedicação à instituição onde trabalho (a FCUL), é com tristeza que sou forçado a manifestar a minha indisponibilidade para continuar o enorme esforço que tenho feito a favor do progresso e desenvolvimento justo e humano desta instituição. Não posso aqui informar os detalhes que me levam a esta decisão pois "de cima" impõem-me silêncio sobre isso. Mas terei todo o gosto em informar quem o desejar, bastando para isso que me contactem por e-mail. Também a mim, ninguém me cala! E como os acontecimentos recentes o demonstram, é grande o apoio dos cidadãos aos que não aceitam ser calados e preferem defender os mais fracos do que aliarem-se aos mais poderosos. Aproveito pois para agradecer aqui a solidariedade e apoio daqueles que gentilmente me fizeram chegar já o seu pesar por toda a situação.
Para que progridam e se desenvolvam, são as instituições que precisam das pessoas. Só quando os critérios principais a ter em conta forem o mérito e o trabalho realizado pelas pessoas e não a sua idade ou o seu poder, só nessa altura poderão as universidades portuguesas libertarem-se do jugo do passado, feito de hierarquias ocas que as condenam a um atraso gritante.
Nos momentos difíceis, a contemplação da Beleza do nosso Universo pode ajudar ao restabelecimento do equilíbrio e bem-estar interiores. E a Astronomia é o "lugar" certo para isso. Quando contemplamos o céu estrelado, tantos mundos distantes, tantas interrogações a alimentar o espírito humano, e que pequena que é a nossa terra, a nossa Terra e a mesquinhez de alguns actos humanos!
Na despedida de todas as minhas responsabilidades no OAL (a acontecer brevemente), quero agradecer a todos os que colaboraram entusiasticamente no trabalho que desenvolvi. Dado ser meu desejo manter os compromissos que assumi previamente, este Boletim continuará a ser produzido e dirigido por mim até ao final de 2006, data do final do projecto que financia este Boletim (do qual eu sou o investigador responsável) e para o qual não pedirei renovação.
A esperança de melhores tempos, de uma melhor sociedade, está nas gerações jovens e é para elas que vale a pena trabalharmos. Vamos a isso...!
João Lin Yun, Director do Boletim O Observatório
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Ficha Técnica
O Observatório é uma publicação do Observatório
Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone:
213616739, Fax: 213616752; Endereço electrónico: observatorio@oal.ul.pt; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio.
Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun, João Retrê. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Tecla 3, Artes Gráficas, Av. Almirante Reis, 45A, 1150-010 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.
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