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Editorial

Quem beneficia com a fuga de cérebros?

  No Editorial do Jornal "Público" de 5 de Março passado, o seu Director José Manuel Fernandes, abordava o tema da "Fuga de Cérebros" de uma forma brilhante! Este é um problema que afecta a Europa em geral e a França e Portugal de uma forma particular. Apesar da estratégia decidida pela Cimeira de Lisboa no ano 2000 - fazer da Europa a sociedade mais desenvolvida e competitiva do Mundo baseada na sociedade do conhecimento - a Europa continua a perder cérebros para os Estados Unidos onde o investimento em investigação e o espírito aberto e justo das universidades oferecem condições mais atractivas aos investigadores.
  Apesar do recente sinal dado pela Comissão Europeia daquilo que tem de ser o futuro da Europa - uma sociedade desenvolvida baseada na Investigação, Ciência e Inovação - se os governos nacionais não apostarem forte e continuadamente em políticas adequadas ao investimento em investigação, a Europa arrisca-se isso sim a tornar--se a sociedade menos desenvolvida de entre os Estados Unidos, o Japão, a China e a Europa.
  Contudo, o problema deste atraso europeu, não reside apenas no maior ou menor investimento em investigação. José Manuel Fernandes aponta, e muito bem, uma outra causa que torna este problema ainda mais grave: "o esclerosamento das estruturas universitárias e laboratoriais". Este problema foi identificado em França por Philippe Aghion, economista francês a trabalhar em Harvard, para quem as instituições francesas são "arcaicas e próprias de uma economia em perda de velocidade, não de uma economia inovadora". Se esta é a situação em França, imagine-se em Portugal: com menor e pior investimento, com muito menos resultados, com as empresas quase ausentes e as universidades ainda mais arcaicas!
  José Manuel Fernandes conclui brilhantemente lembrando que, quando ouvimos falar do sucesso de um dos muitos investigadores portugueses no estrangeiro, não devíamos sentir orgulho: devíamos antes procurar saber porque é que ele teve de ir para o estrangeiro e sentir, isso sim, alguma vergonha por isso!
  Se vamos alguma vez sair do atraso económico em que nos encontramos, na cauda da Europa em quase tudo o que sejam indicadores de desenvolvimento, há que estancar a fuga de cérebros através da oferta de condições, financeiras e não só, para o trabalho de tantos dos nossos jovens investigadores.
  O público e a sociedade portuguesa já perceberam isso. E os nossos governantes, quanto tempo mais levarão a concluir isso? E a actuar realmente, para além das palavras e promessas? E as nossas universidades e estruturas académicas? Quanto tempo mais levarão a sair da sua actual estratégia suicida e a modernizar-se? Quando é que passarão a premiar os jovens investigadores, dinâmicos e empreendedores, de modo a incentivar a sua permanência no País? Quem beneficia com a fuga de cérebros? Talvez dê jeito a alguns professores que os sistemas universitários se mantenham dominados por eles, e por isso que a fuga de cérebros continue, comprometendo assim de uma forma dramática o futuro de todo o País.

João Lin Yun, Director do OAL
 

O Observatório esclarece as suas dúvidas de astronomia através do endereço electrónico: consultorio@oal.ul.pt

Captação de sons no Espaço?

Questão:

Gostaria de saber sobre as pesquisas na captação de sons no Espaço e como aceder a sites sobre o assunto?

  Na realidade não conseguimos captar "sons" do Espaço, já que o som é uma vibração dos componentes de um meio, meio esse que é basicamente inexistente no Espaço. O que conseguimos captar é a luz, ou seja, radiação electromagnética (que não necessita de um meio onde se propagar).

O Very Large Array (VLA), um dos melhores rádio-telescópios do mundo, observa um céu pouco familiar, nesta imagem que combina a visão no óptico (a azul) e no rádio (a vermelho). Pode encontrar uma descrição pormenorizada do VLA nas páginas centrais deste número. Imagem cortesia NRAO/AUI.

  Ora, a radiação electromagnética é classificada de acordo com a sua frequência, podendo ser, por exemplo, radiação de raios-X (usada nas radiografias), no visível (à qual os nossos olhos são sensíveis), no infravermelho (à qual a nossa pele é sensível, revelando-a através da sensação de calor), ou no rádio (as transmissões de televisão, telefonia e telemóveis dão-se através de ondas de rádio). Muitas vezes, mesmo em filmes, passa a mensagem que a observação de ondas de rádio corresponde a "ouvir" o Universo, mas convém notar que o rádio é apenas radiação electromagnética numa determinada gama de comprimentos de onda, à semelhança do que acontece com a radiação óptica - não existe portanto um "ouvir" do Universo.
  Assim, temos uma parte da Astronomia dedicada à obser-vação do Universo em rádio frequências, a rádio-astronomia. Os estudos incidem sobre todos os corpos do Universo, no entanto os corpos mais brilhantes são os remanescentes de supernova e as vizinhanças de buracos negros. Rádio telescópios mais conhe-cidos incluem o Telescópio de Arecibo, o Parkes, o Very Large Array, o Australia Telescope Compact Array, o Giant Metrewave Radio Telescope. Ficam as páginas de alguns deles, com secções de divulgação disponíveis:
  - National Radio Astronomy Observatory (EUA): http://www.nrao.edu (com acesso ao VLA, por exemplo)
  - Australia Telescope National Facility (Austrália): http://www.atnf.csiro.au (com ligações a Parkes e Narrabri, o site do Compact Array)
  - Arecibo (EUA): http://www.naic.edu/

 

Ficha Técnica

O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax: 213616752; Endereço electrónico: observatorio@oal.ul.pt; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Fergráfica, Artes Gráficas, SA, Av. Infante D. Henrique, 89, 1900-263 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.
A imagem de fundo da capa é cortesia do ESO.

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