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A Astronomia na Internet

Catalogar o céu

  Catalogar rigorosamente o céu, o que implica determinar com exactidão, entre outros parâmetros, a posição dos objectos celestes, é assunto de máximo importância em Astronomia. De facto, de nada serviriam os grandes telescópios que têm sido apresentados nas páginas centrais deste boletim, se os astrónomos não soubessem exactamente para o quê, e para onde apontá-los! Para uma introdução aos aspectos técnicos do tema, recomendamos a página http://www.apaa.online.pt/coordenadas.htm (em português) e o sítio do Museu Marítimo britânico (http://www.nmm.ac.uk dá acesso à página principal; para obter uma lista de artigos sobre o assunto em questão, escreva "declination" no motor de busca que aí se encontra).
  Façamos agora uma breve digressão histórica. O astrónomo grego Hiparco foi um dos primeiros a produzir um catálogo de estrelas, em 129 a.C., no qual referiu a posição de cerca de 850 estrelas (v. http://turnbull.mcs.st-and.ac.uk/~history/Mathematicians/Hipparchus.html). Outro grande astrónomo da antiguidade, porventura o mais célebre, foi Ptolomeu (http://turnbull.mcs.st-and.ac.uk/~history/Mathematicians/Ptolemy.html). O seu trabalho astronómico, reunido numa obra que ficou conhecida como Almagesto, constituiu, até aos alvores da ciência moderna nos séculos XVI e XVII, a referência máxima em astronomia. O Almagesto inclui um catálogo com cerca de 1000 estrelas.
  Ainda antes do advento do telescópio, o astrónomo Tycho Brahe (v. http://turnbull.mcs.st-and.ac.uk/~history/Mathematicians/Brahe.html) notabilizou-se pelo grande rigor das suas observações. Em 1603, utilizando valores de coordenadas celestes determinados por Brahe, Johann Bayer publicou um conjunto de mapas celestes intitulado Uranometria, onde alia a representação rigorosa das posições das estrelas a desenhos alusivos às figuras míticas associadas às constelações. Trata-se de uma obra de grande beleza, que se encontra parcialmente reproduzida em http://www.udstillinger.dnlb.dk/Stjernebilleder/atlasser/bayer.
  Igualmente de grande valor estético e cientificamente rigorosa pelos padrões da época é a obra Uranographia, de Johann Hevelius, publicada em 1690. Trata-se, porventura, do último grande atlas celeste não telescópico, que se encontra reproduzido em http://albinoni.brera.unimi.it/HEAVENS/ATLAS/hevelius.html. Mas, como seria de esperar, a catalogação do céu render-se-ia às observações telescópicas. Em 1725, John Flamsteed, astrónomo real britânico, publicou Historia Coelestis Britannica, o primeiro catálogo de estrelas (com referência a 3000) baseado nesse tipo de observações, e que suplantou em precisão todos os catálogos até então existentes (sobre Flamsteed v. http://www-gap.dcs.st-and.ac.uk/~history/Mathematicians/Flamsteed.html). Um catálogo telescópico célebre entre os astrónomos amadores é o de Charles Messier (http://www.obspm.fr/messier/Messier.html), compilado entre 1758 e 1782 e que reúne uma série de objectos (na sua maioria nebulosas, enxames de estrelas e galáxias) que não deveriam ser confundidos com cometas. Igualmente célebre é o New General Catalogue - NGC (v. http://www.ngcic.org), originalmente publicado em 1888.
  A casa que produz este boletim tem também lugar marcado na história da catalogação do céu. Em 1861 teve início a construção do Real Observatório Astronómico de Lisboa, que foi equipado e organizado de modo a dedicar-se especialmente à determinação telescópica de coordenadas de objectos celestes. Em finais do séc. XIX e princípios do séc. XX realizou-se aqui, nesse âmbito, trabalho de grande qualidade, que valeu ao OAL o reconhecimento da comunidade astronómica internacional (v. http://www.oal.ul.pt/index.php?link=historia).
  A tecnologia espacial e a Internet abriram novos horizontes à catalogação dos céus. O satélite europeu Hipparcos (http://astro.estec.esa.nl/Hipparcos), assim baptizado em merecida homenagem ao astrónomo grego acima referido, tem-se revelado uma ferramenta de extrema utilidade para a catalogação dos céus. E graças à World Wide Web, qualquer interessado pode hoje aceder facilmente a grandes mananciais de informação astronómica, que se encontra reunida em bases de dados como o SIMBAD (http://simbad.u-strasbg.fr/Simbad). Uma excelente via de acesso ao mundo dos catálogos astronómicos virtuais é o site da organização SEDS - Students for the Development of Space (http://seds.org/index.html) que, infelizmente, se encontra fora de serviço à data da redacção deste texto, em consequência do ataque de um hacker - esperemos que o serviço seja reactivado com brevidade!
  Para usos mais modestos, como a iniciação à localização e identificação de planetas, estrelas e constelações, uma boa carta celeste será suficiente. O mapa do céu da pág. 8, que é já uma imagem de marca do nosso boletim, adequa-se perfeitamente a essa finalidade. O leitor pode, no entanto, produzir os seus próprios mapas: para tal basta visitar o site Your Sky (http://www.fourmilab.ch/yoursky/) ou descarregar o software gratuito Sky Charts em http://www.stargazing.net/astropc/pindex.html (páginas em português).
  Já não restam motivos para se perder entre as constelações!


Pedro Raposo
OAL

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