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Tudo começou com o cometa de Edmond Halley. Foi uma busca do conhecimento que levou ao lançamento de 6 sondas espaciais dedicadas ao cometa de Halley em 1985-86, num esforço científico e tecnológico nunca dantes visto. Culminou na primeira imagem de um núcleo cometário, que aqui se apresenta, obtida a 600 km pela sonda Giotto, da ESA (H. Keller, Max Planck Institute fuer Aeronomie).

Comecemos com a história. As medições da paralaxe de cometas levaram Tycho Brahe (1755) a concluir que tinham órbitas para lá da Lua e por isso não eram fenómenos atmosféricos. Usando a Lei da Gravitação Universal de Isaac Newton (1687), Halley conclui na “Sinopse da Astronomia Cometária” (1705) que o cometa de 1682 seria o mesmo de 1607 observado por Johannes Kepler, mas também por Pedro Apiano, em 1531. Os cometas eram periódicos e este passava a cada 75 ou 76 anos no seu periélio solar.

A constituição dum cometa só pôde ser compreendida com o advento da espectroscopia astronómica em finais do séc. XIX, que desvendou a estrutura gasosa duma das caudas e a natureza poeirenta da outra. O modelo físico capaz de explicar a multitude de fenómenos observados surgiu com Fred Whipple (1950) e preconiza um pequeno núcleo cometário constituído por uma mistura de gelos e poeiras que ao aproximar-se do sol sublima o gelo, libertando-se em gás e minúsculos grãos que formam as duas caudas. A dinâmica complexa observada na cauda gasosa foi explicada por H. Alfvén (1956) com a interacção magneto-hidrodinâmica entre os iões comentários e o vento solar.

O núcleo do cometa Halley (considerado grande) tem apenas 16 x 8,2 x 7,5 km3 e uma massa de 2,2 × 1014 kg, libertando ≈2 x 1011 kg em cada passagem periélica. A densidade mássica média é de 0,6 g/cme o albedo (reflectividade) de apenas 4%. No gás sublimado encontram-se 80% de H2O, 17% de CO e 3–4% em CO2. A sonda Giotto fotografou 25% da superfície, estudou-se a dinâmica de sublimação em grande detalhe mas o sonho de pousar num núcleo cometário logo perseguiu a humanidade: nessa altura pensaram-se as sondas que pousariam num cometa para estudar o núcleo in loco, levando aos projectos das missões espaciais que iremos abordar antes da sonda Rosetta pousar no 67P/Churyumov–Gerasimenko, o culminar desta série.