O Director Campos Rodrigues (Vice-Almirante)

 

Campos Rodrigues, 2º director do OAL

O Director Campos Rodrigues (OAL)

César Augusto de Campos Rodrigues (1836-1919), oficial da Marinha, engenheiro hidrógrafo, astrónomo, marcou indelevelmente a astronomia portuguesa e mundial na transição do séc. XIX para o séc. XX.

Já depois de ter evidenciado extraordinárias aptidões científicas, nomeadamente em trabalhos meteorológicos realizados numa viagem a Macau e no levantamento hidrográfico da barra do rio Minho, entrou para o Real Observatório de Lisboa em 1869, numa altura em que esta instituição se encontrava ainda em fase de organização e de finalização de infra-estruturas.

Aí passaria os restantes 50 anos da sua longa e frutífera vida, deixando a marca do seu génio inventivo em praticamente todos os instrumentos e técnicas em uso no Observatório. Assumiu o cargo de Director em 1890, no qual permaneceu até ao seu falecimento, que se deu na madrugada do dia de Natal de 1919.

 

O Círculo Meridiano, telescópio usado em astrometria de precisão (OAL).

O Círculo Meridiano de precisão (OAL).

Luneta de Trânsitos estelares (OAL)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Instrumento de passagens e círculo meridiano do OAL, ambos fabricados pela casa alemã Repsold e depositários de beneficiações introduzidas por Campos Rodrigues. Com o primeiro, efectuou observações em ascensão recta que seriam empregues na elaboração do catálogo de estrelas de Lewis Boss, e que terão merecido deste astrónomo o comentário “the best work ever done” (“o melhor trabalho alguma vez feito“). Com o círculo meridiano realizaram-se, no âmbito de programas internacionais, observações de Marte e de estrelas de referência para a observação do asteróide Eros, trabalhos que mereceram rasgados elogios por parte de destacados membros da comunidade astronómica.

Sob a direcção de Campos Rodrigues, o Real Observatório de Lisboa evidenciou-se no seio da comunidade astronómica mundial, por ocasião da oposição de Marte de 1892. Convidado a contribuir para um esforço internacional para uma nova determinação da paralaxe solar, o observatório lisboeta efectuou uma série de observações do planeta, que mereceram de William Harkness, astrónomo do Observatório Naval de Washington, o seguinte comentário: “they are remarkable complete, and will be of great use” (“são notavelmente completas, e terão grande utilidade“).

Em 1900, o Observatório de Paris apelou à colaboração internacional numa nova campanha para a determinação da paralaxe solar. Sendo ainda insatisfatório o nível de precisão proporcionado, para esse fim, pela observação quer de Marte em oposição, quer dos trânsitos solares de Vénus, a comunidade astronómica virou as suas atenções para um asteróide baptizado com o nome Eros (asteróide nº 433), que havia sido descoberto recentemente e que em Novembro daquele ano estaria em oposição. Cinquenta observatórios, entre os quais o de Lisboa, participariam nessa campanha.

Coube ao Observatório de Lisboa elaborar, juntamente com outros doze observatórios, um catálogo das estrelas que serviriam de referência para a observação de Eros, e cujas coordenadas deveriam, para tal, ser determinadas com o maior rigor possível. Conjuntamente, os treze observatórios realizaram, aproximadamente, 19 000 observações, das quais cerca de 3800 foram efectuadas no ROAL. Os erros associados às observações de Lisboa foram os menores de todo o conjunto, e nenhuma observação teve que ser rejeitada; o seu peso no cálculo dos valores finais foi máximo.

            

A atribuição do prémio Valz a Campos Rodrigues assinalada na Revista Militar de Fevereiro de 1905 (imagem à esquerda), e um quadro de uma circular do Observatório de Paris adaptado e publicado por Eduardo Andrea no Boletim da Direcção Geral da Instrução Pública (Ano III, 1904) onde se pode verificar que os erros das observações de Lisboa (Lis) efectuadas na campanha de Eros foram os menores do conjunto (imagem à direita). Os outros observatório eram: A – Abbadia; G – Greenwich; K – Koenigsberg; L – Lick; M – Marseille; N- Nice; P – Paris; R – Roma (Vaticano); SF – San Fernando; St – Strasbourg; T – Toulouse; W – Washington. (Biblioteca do OAL)

Na sessão de 19 de Dezembro de 1904, a Academia das Ciências de Paris decidiu atribuir a Campos Rodrigues o Prémio Valz (da Fundação Benjamin Valz), instituído para distinguir astrónomos que se evidenciassem pela qualidade dos seus trabalhos.

Coordenados por Campos Rodrigues, os contributos do OAL no âmbito da campanha de Eros conquistaram um júri que incluía grandes nomes da ciência da época, como o matemático Henri Poincaré e o astrónomo Guillaume Bigourdan. A atribuição do prémio ao astrónomo português foi decidida por unanimidade.

 

Outras informações:

— Cronologia e obras de Campos Rodrigues

Nota biográfica extensa no sítio do Centro Inter-Universitário de História das Ciências.

 

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