Os textos bíblicos são parcos nas descrições do que terá sido o astro de Belém, na Galileia, no ano 7-6 a.C.. A palavra nos Evangelhos Sinópticos é aster de origem grega, indicativo dum astro que aparece nos céus. Os romanos associaram-lhe stella (e sidum), que terá degenerado na mais moderna designação estrela. Foi então um astro que indicou o caminho para Belém aos sábios vindos do oriente. O evangelho de S. Mateus (2,9) dá pouco mais do que isso: “E eis que a estrela que tinham visto no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o local onde estava o menino”, o Presépio.
Os cometas sempre foram associados a fenómenos fantásticos, talvez pelo impacto visual que muitos provocaram. Há casos célebres disso. A passagem do cometa de Halley em 1066, constituiu um mau augúrio na batalha de Hastings: na tapeçaria de Bayeux (na Câmara Municipal) o Cometa Halley aparece por cima do trono do Rei Haroldo II de Inglaterra, que morre na batalha. Mas é uma benção para Guilherme o Conquistador (duque da Normandia), que derrota os anglo-saxões. O Halley passou a 0,1 Unidades Astronómicas da Terra e o seu brilho foi comparado ao da Lua em Quarto Crescente. O coreano Koryo-sa viu-o tão grande quanto a Lua e os chineses descreveram-no como um vapor em forma de vassoura.
Um cometa era um fenómeno diferente. Aristóteles (384-322 a.C.), considerava que todas as alterações dos céus seriam fenómenos sub-lunares, daí atribuir-lhes origem atmosférica. Mas a designação vem do Grego kometés, “de cabelo longo”, e koma a sua “cabeleira”. Os antigos referiam-se-lhes como tendo cabelos longos, numa imagem extremamente poética.
A aparição do cometa Halley em 1301 (passa a 0,18 UA da Terra em Setembro) marca a obra do pintor Giotto di Bondone. É uma situação próxima da passagem em 1910 (perigeu a 0,15 UA em Maio) que o fez ser visto com grande cabeleira e caudas a espraiar por meio céu. Foi o terror da humanidade.
Giotto foi um pintor e arquitecto italiano famoso na sua época, cantado pelos poetas Boccaccio, Sacchetti e Dante Alighieri na sua “Divina Comédia”. Diz-se que Miguel Ângelo estudou os seus frescos na Capela de Peruzzi. Os frescos na Capela de Scrovegni (1304 a 1306), em Arena, Pádua, marcam o proto-renascentismo, muito em particular o da “A Adoração dos Magos”, na introdução das roupas onduladas, sombreados, emoções nas faces e perspectiva tridimensional.
Mas é o cometa que aqui nos traz. A visão celeste em 1301 deve ter sido tão fantástica que a memória levou-o a associar o cometa com a bíblica “Estrela de Belém”. É a primeira vez que tal acontece e artistas posteriores mantêm esta tradição que, aliás, chega aos tempos modernos. Apesar de não ser um verdadeiro astro das Esferas Celestes aristotélicas, a sua impressão esmagadora plasmou-se nesta pintura da história da humanidade.
De toda a equipa do OAL ficam os votos de um Feliz Natal 2016 e Paz na Terra.
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